Há
muito tempo que Daniel Hammermesh estuda o efeito da beleza nos salários em
diversos artigos de Economia. Agora, ele resumiu o que descobriu em suas
pesquisas e o resultado de outros trabalhos em um livro chamado O Valor da Beleza (Beauty Pays, na versão original). É um tópico (Economia
da Beleza) interessante por lidar com assuntos econômicos fora dos usuais, o
que pode atrair leitores que não estão geralmente interessados em Economia.
A
preocupação com a beleza é muito presente nos dias de hoje, como evidenciam os
gastos com roupas e produtos de beleza, principalmente por parte das mulheres,
mas também por parte dos homens. E essa preocupação não é nova, em tempos mais
remotos também havendo indícios de que a beleza era levada em conta, como
mostram a existência de joias. Mas por que um economista teria interesse no
tema?
Economia
lida com a maneira como gerenciamos recursos escassos. Beleza é um recurso
escasso, não apenas porque há menos gente bonita do que gente bonita, mas,
acima de tudo, porque a busca pela beleza envolve uma procura pela
diferenciação que continua ocorrendo mesmo que todos fossemos geneticamente
idênticos.
Além
de escassa, beleza tem valor de mercado e influencia os resultados econômicos
em diversas esferas. No mercado de trabalho, beleza pode resultar em maiores
salários e maior empregabilidade, seja por si própria, seja por uma
característica relacionada. Também tem valor no “mercado do casamento”.
Hammermesh
analisará os custos e os benefícios da beleza, mas não fará nenhum tratado
sobre o que é beleza. Mas, para fins de análise econômica, é necessário medir
de alguma forma a beleza para podermos comparar com outras variáveis
econômicas. É o que o autor procura fazer no capítulo 2, que começa com várias
ressalvas sobre o conceito de beleza. Resumindo, para os fins do trabalho de
Hammermesh: Beleza está nos olhos de quem vê.
A
operacionalização dessa definição é pedir para que as pessoas classifiquem as
pessoas de acordo com a sua beleza. Essa é uma forma de se quantificar a
beleza, mas ainda há uma série de problemas com essa abordagem inerentes ao
elevado grau de subjetividade. Essa abordagem foi utilizada em diversas
pesquisas e Hammermesh vale-se desses dados para grande parte de seus próprios
estudos.
Um
dos problemas é a questão dos padrões de beleza, sendo desejável que haja um
padrão (senão, toda a influência da beleza seria específica a uma situação e
não poderia ser generalizada). E, de fato, os padrões podem mudar, mas há
determinados tipos físicos que são considerados mais belos em determinada
época. E a questão não é só de época, podendo haver variações culturais no que
é considerado belo ou feio.
O
autor analisa algumas das pesquisas sobre a quantificação da beleza. A
distribuição das notas é ligeiramente enviesada para a classificação como acima
da média, com poucas notas extremas (de 1 a 5, ou 1 ou 5). Apesar da
distribuição não ser perfeita, isso é fácil de ajustar. Um problema maior seria
se as pessoas fossem inconsistente em suas notas, classificando de maneira
diferente fotos da mesma pessoa, o que, segundo uma das pesquisas, não foi
muito o caso, de forma que as pessoas são razoavelmente consistentes. Além
disso, diferentes pessoas atribuem notas parecidas para uma mesma pessoa, raramente
se desviando de duas notas na escala de 5. Em suma, há um bom grau de
concordância sobre o julgamento da beleza e também os juízos são consistentes.
A
próxima questão é sobre se fatores afetam a avaliação da beleza. Idade é um
fator que pesa negativamente, apesar das pesquisas pedirem para que as pessoas
tentem levar em conta a idade (ou seja, perguntam para avaliar a pessoa
considerando a idade que ela tem). Quanto ao gênero, não há muitas diferenças
significativas quando os entrevistados são selecionados aleatoriamente. Para
“raça”, também não há grandes diferenças na avaliação da beleza.
Por
fim, Hammermesh analisa se as pessoas podem se tornar mais belas de maneira
significativa. Analisando primeira a questão das cirurgias, apesar de não haver
uma quantificação disso, o alto custo financeiro e emocional dessas cirurgias
provavelmente não superam os benefícios no aumento da nota (não transforma
alguém de 1 para 5, por exemplo). Em uma das pesquisas, mulheres que mais
gastava com roupas e cosméticos tinham média de 3,36, contra 3,31 das demais.
Financeiramente, o gasto acaba não compensando, mas em termos de auto estima,
cirurgias, roupas e cosméticos podem se pagar. Ou seja, acabamos ficando presos
ao que a natureza nos deu.
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