Angus
Deaton. 2005
Mais
conhecido pelos teoremas de irrelevância da estrutura de capital e da
irrelevância da política de dividendos, Franco Modigliani não ganhou o Nobel
apenas por essas suas contribuições, e talvez nem principalmente por isso (ou
Merton Miller teria ganho o Nobel junto com Modigliani, e não em 1990 junto com
Sharpe e Markowitz), e sim pela hipótese do ciclo de vida (vamos abreviar como
HCV). A teoria desenvolvida inicialmente em Modigliani e Brumberg (1954) é bastante simples: as pessoas
poupam nas fases inciais da vida para suavizar o consumo ao longo do ciclo de
vida e ter dinheiro para manter o padrão de vida na aposentadoria. Como
argumenta Angus Deaton, apesar de simples, essa ideia resulta em diversos
desdobramentos não triviais, como a explicação das taxas de poupança e como
variam de acordo com variáveis demográficas e econômicas.
Deaton
começa o texto mostrando como a HCV não é tão trivial e óbvia quanto parece a
sua formulação. Uma implicação da HCV é que quando as pessoas se aposentam elas
vendem seus ativos, que devem ser comprados pelos mais jovens, que ainda estão
na fase de acumulação. Outro fator a ser considerado é o crescimento, tanto da
população quanto das rendas. O crescimento populacional indica que há mais
jovens (acumulando patrimônio) do que velhos (desfazendo-se do patrimônio),
gerando poupança líquida positiva. O mesmo ocorre se houver um aumento na
renda. Se isso ocorrer, o mais importante não é o nível de renda, apenas a sua
taxa de crescimento, já que novas riquezas serão criadas e não apenas passadas
de geração para geração. E também haveria uma relação entre a riqueza e duração
da aposentadoria, a razão entre patrimônio e renda devendo ser metade da
duração média da aposentadoria (não sei qual a fonte dessa informação de
Deaton).
Diversas
teorias sobre consumo e poupança foram criadas, principalmente a partir da Teoria
Geral de Keynes. Muitos trabalhos empíricos foram publicados gerando diversos
fatos estilizados, mas faltava algo para juntar esses estudos. A HCV é
consistente com a teoria da escolha do consumidor e resiste a diversos testes
da época. Uma primeira crítica que poderia ser feita é que a taxa de poupança
geralmente acompanha o crescimento de renda, de forma que pessoas com maior
renda tendem a também poupar mais, contrariamente ao que seria de se esperar
inicialmente. Porém, o que se observa é que parte do aumento de renda é
transitório de forma que a maior taxa de poupança também é transitória. No
nível macro, a taxa de poupança agregada deveria ser constante ao longo do
tempo, mas variará de acordo com o ciclo de negócios.
Diversas
críticas à HCV foram feitas ao longo do tempo. Das injustas, segundo Deaton,
estão a de que essa é uma “teoria dos solteiros” (o fato da pessoa ter filhos
não muda significativamente a teoria e a inclusão desse fator mais confunde do
que explica) e que as pessoas deixam de considerar alguns rendimentos como
“renda” nas pesquisas (o que na verdade cria um viés contra a HCV). Afora essas
críticas imprecisas, outras foram formuladas. Incertezas quanto à longevidade e
desejo por deixar um legado intencionalmente mudam a importância da HCV na
explicação do comportamento das pessoas (mas não se sabe a magnitude dessa
modificação). James Tobin imagina o cenário em que a pessoa suavizaria o
consumo contraindo dívidas no começo e venderia ativos no final da vida, da
forma que haveria consumo de poupança no começo e no fim do ciclo e talvez até
haja relação negativa entre crescimento e taxa de poupança. Modigliani credita
como pouco plausível esse comportamento.
A HCV
gera várias previsões teóricas que precisam ser testadas com dados empíricos
para se constatar a sua validade. Demorou para ser possível reunir dados
suficientes sobre os países para testar as previsões da relação entre taxa de
poupança, demografia e renda. Em artigo de 1992, Modigliani constatou a relação
entre crescimento e demografia com a a taxa de poupança, com pouca influência
do nível de renda. Testes foram feitos sobre a relação entre demografia e taxa
de poupança, com evidências anômalas ao que seria de se esperar da HCV. Observa-se
ainda relação entre crescimento e poupança, mas é difícil estabelecer
causalidade. Precaução
por conta da incerteza de rendas e taxas de retorno é outro motivo para
investir além de preocupações com ciclo de vida traz maior complexidade para a
questão, mas não chega a ser incoerente com a HCV e até é uma explicação
adicional para o fato das pessoas não quererem suavizar o consumo aumentando o
endividamento no começo da vida.
Outro
desafio da HCV vem da Economia Comportamental. A primeira observação
(extensível para outros assuntos), é que a Economia Comportamental encontra
diversas anomalias em teorias alheias, mas de forma geral não consegue reunir seus
achados em uma teoria unificada para explicar os fatos que procura examinar.
Contribui enormente para o debate, mas não oferece um modelo alternativo (na
maioria dos casos). Como escreve Deaton, economistas têm o receio de que se a maximização
de utilidade for abandonada, então tudo será possível. Mais concretamente na
HCV, a questão do desconto hiperbólico faz com que as pessoas prorroguem
começar a poupar, contrariamente ao que a HCV prevê. Além disso, a HCV mostra o
que as pessoas fariam se tivessem interessadas no seu bem-estar, mas nem sempre
as pessoas agem da melhor maneira para seu próprio bem. Talvez a economia
comportamental venha a comprovar que as pessoas não agem conforme o prescrito
na HCV, mas, como em outros tópicos, isso só invalida a HCV como uma teoria
positiva, mas não como teoria normativa.
Esse
é um resumo do resumo das ideias de Modigliani para o que seria seu aniversário
de 94 anos. Quem sabe no ano que vem faço algo melhor, sem atraso e sem
improviso.
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Fonte da imagem: Umofomia via Wikiédia
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Fonte da imagem: Umofomia via Wikiédia
prof premraj pushpakaran writes -- 2018 marks the 100th birth year of Franco Modigliani!!!
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