Mark
Grinblatt, Matti Keloharju e Juhani T. Linnainmaa
Journal of
Financial Economics. Volume 104. Ed. 2.
O efeito do QI no comportamento
dos investidores já foi discutido anteriormente no blog com artigo também de
autoria de Mark Grinblatt (ver aqui).
Na ocasião, a questão era sobre a decisão de participar do mercado. Agora, a
pesquisa é sobre o desempenho dos investidores em função do QI, também na
Finlândia e com a mesma base de dados da câmara de compensação do país
utilizada em outro artigo (ver aqui)
publicado na mesma edição da edição especial do JFE algumas páginas depois.
Estatísticas sobre QI veem de testes realizados para alistamento militar. O período
da análise é entre 1995 e2002.
Os autores procuraram analisar como
investidores com alto e baixo QI diferem em relação a vieses comportamentais e Analisando
as estatísticas descritivas, os resultados de pesquisas anteriores sobre o
efeito do QI na decisão de entrar no mercado fazem sentido, com o QI médio dos
investidores sendo maior do que o QI médio da base inteira. Além disso, na
separação em nove grupos, os quatro de menores QIs representam 41% da base
total, mas apenas 24% da base de investidores. Criando carteiras com base em
grupos de QI, não há diferenças significativas na exposição a fatores de risco.
O desempenho de um mês dos investidores de maior QI é marginalmente menor do
que o desempenho dos de menor QI, porém, calculando retornos de um mês os
resultados são inversos e mais significativos. Um número maior de investidores
de alto QI compra ações na mínima do mês e vendem na máxima do que investidores
de baixo QI. A tendência de “seguir a manada”, medido pela razão entre as ações
compradas dividido pelo número de ações compradas ou vendidas na semana
passada, é menor para investidores de maior QI.
As estatísticas descritivas
afirmam que os investidores com maiores capacidades cognitivas são menos
suscetíveis a vieses comportamentais e conseguem maiores retornos, mas são
necessárias análises mais profundas para se chegar a alguma com conclusão mais
concreta. A primeira análise multivariada é a respeito da tendência dos
investidores em vender ou manter ações já compradas. Os autores usam como
principal variável independente o QI, que tem como valor -1 o grupo com menor
QI e +1 o com maior QI (0 sendo o grupo mediano). Sem relacionar com QI, os
autores notam que as ações com retornos negativos (sem incluir dezembro) são
menos prováveis de serem vendidas, enquanto que as ações em alta têm maior
probabilidade de serem vendidas. Na parte negativa, há uma relação monotônica,
as ações com pior desempenho tendo maior chance de serem vendidas do que as com
desempenho menos ruim. Isso não acontece no caso das altas, as ações com altas
mais modestas tendo maior chance de serem vendidas. Os resultados confirmam que
investidores pessoa física sofrem do efeito disposição, a propensão a não se
desfazer de maus investimentos. Porém, controlando conjuntamente por QI, os
autores notam que investidores com maior QI são mais propensos a venderem ações
perdedoras e os com menor QI menor propensão.
Outra questão é a venda para fins
de compensação tributária. De forma geral, os investidores são mais propensos a
venderem ações perdedoras em dezembro e menos propensos a venderem ações
ganhadoras. Interagindo o retorno com o QI, nota-se que investidores com maior
QI valem-se mais do gerenciamento tributário. Dessa forma, o investidor mediano
está sujeito ao efeito disposição na maior parte do ano, mas busca benefícios
tributários em dezembro.
Investidores com maior QI têm
maior tendência de comprar as ações na mínima do mês e vender na máxima do mês
do que os com menor QI. Isso se configura na adoção de estratégias contrárias,
e a utilização desse esquema de investimentos pode se dar por maior habilidade
ou por viés comportamental. Se estudos anteriores sobre estratégias contrárias
estiverem corretos, é provável que maior habilidade seja a melhor explicação. Os
autores analisaram o efeito manada através do indicador mencionado acima, mas
relativos apenas para vendas (número de ações vendidas por outros investidores
/ número de ações vendidas e mantidas por outros investidores). Os resultados
mostram que esse indicador está positivamente relacionado com a propensão
individual para vender, confirmando o efeito manada. Porém, interagindo esse
indicador com a variável de QI, perde-se a significância estatística, o que
indica que investidores de alto QI não são suscetíveis ao efeito manada.
Estudando agora as compras também,
os autores analisam a propensão dos investidores de agirem junto com
investidores de QI semelhante. Tanto na compra quanto na venda, o comportamento
dos investidores de menor QI (grupos 1-4) é mais correlacionado com o
comportamento de investidores com QI semelhante (grupos 5 e 6) do que com os
com maior QI. Analisando agora os investidores com maiores habilidades
cognitivas, não há muita relação significativa com as compras ou vendas dos
investidores com outros níveis de QI, mas a diferença é maior com o grupo de
menor QI. Em suma, os investidores tendem a agir de forma parecida com
investidores com níveis significativos de inteligência.
Após investigar o comportamento
dos investidores, os autores passam a analisar o desempenho. Considerando toda
a base, os investidores de maior QI (grupo 9) conseguem retorno maior do que os
de menor QI (grupo 1-4). Controlando por patrimônio, a tendência é que os
resultados se mantenham, mas muitos testes não passam na significância
estatística. Os autores também ponderam os retornos pela taxa de participação,
notando que as diferenças entre os grupos de QI aumenta, indicando que
investidores de menor QI possuem piores habilidades de market timing. Isso também
se percebe em um gráfico que mostra que a taxa de entrada dos investidores de
maior QI é maior no começo do período, mas reverte durante a bolha pontocom
(que aparentemente também ocorreu na Finlândia, embora em menor escala do que
nos EUA). Ou seja, há diferenças entre os investidores de diferentes níveis de
inteligência também em relação à taxa de entrada no mercado.
Esses resultados podem se dar por
outros fatores não considerados, de forma que o próximo passo natural é
realizar análises multivariadas controlando por uma série de fatores dos ativos
e dos investidores (incluindo patrimônio). Em diversas janelas de tempo, a
principal sendo [0,0] (ou seja, day
trades), as ações compradas pelos investidores de menor QI tiveram um
desempenho pior do que as compradas por investidores dos grupos de maior QI,
com a diferença crescendo com a inteligência. Os resultados são mais
significativos para prazos menores do que 22 dias. Considerando as vendas, os
resultados são bem menos significativos, de forma que não é possível afirmar
que haja influência da inteligência nas operações compradas. Experiência,
medida pelo número de operações realizadas, não está relacionada com o
desempenho exceto no curto prazo.
Por fim, os autores analisam a
questão dos custos de transação, mais especificamente, a diferença entre a
melhor ordem de compra e a melhor oferta de venda. Esse é um custo de transação
na medida em que o investidor deve pagar um preço superior ou aceitar um preço
menor para operar imediatamente (ou seja, sacrifica um pouco de retorno por
maior liquidez de curtíssimo prazo). Isso afeta principalmente as ordens a
preços de mercado, de forma que escolher o momento certo de utilizar esse tipo
de ordem é crucial para os retornos, principalmente de curto prazo. Os autores
possuem os preços e os tipos de ordens dos investidores, porém, por um período
de tempo menor (três anos). Examinando apenas as ordens a mercado, por
enquanto, a análise dos retornos considerando variáveis de controle indica que
os investidores de maior QI conseguiram um maior retorno, agora definido como a
diferença entre o ponto médio entre a melhor oferta de compra e a de venda e o
preço de compra/venda. Isso indica que esses investidores escolheram os
momentos em que a diferença entre os preços era menor. A diferença entre o
preço de compra e o ponto médio costuma ser negativa e menos negativa quando a
diferença entre as ofertas de compra e de venda são menores, e o melhor
desempenho dos investidores de maior QI indica que eles enviaram ordens a
mercado em momentos em que a diferença é menor.
Realizando o mesmo tipo de análise
para ordens limitadas, os autores também encontram evidências de que os
investidores de maior QI conseguem maiores retornos, embora a significância dos
resultados seja menor do que no primeiro teste. A principal referência agora
foi a diferença entre o preço de compra/venda e o de fechamento, e o maior
resultado indica que os investidores mais inteligentes colocaram ordens
limitadas em momentos de menor risco de negociar com um investidor mais bem
informado. Análises adicionais mostram que investidores mais experientes
colocam ordens a mercado ou limitadas nos momentos mais propícios e que
investidores com maior patrimônio conseguem maiores retornos analisando apenas
as ordens a mercado (os resultados não foram significativos para ordens
limitadas).
Juntando os resultados do
desempenho, a conclusão é que os custos de transação estão relacionados com o
QI, com a experiência e a riqueza, esses últimos dois fatores não tendo relação
com o desempenho, de forma que QI deve estar relacionado com habilidade.
Em resumo, investidores com
habilidades cognitivas superiores são menos propensos a vieses comportamentais,
realizam maior compensação tributária, conseguem menores custos de transação e
isso resulta em maiores retornos. Há de se observar que esses resultados são
relativos a investidores de menor QI, e não foi feita uma análise em termos
absolutos. Falta ainda, segundo os próprios autores, descobrir o mecanismo
através do qual investidores de maior QI conseguem retornos superiores (melhor
interpretação de informações públicas, acesso a informações privadas ou
internas...?).
Nenhum comentário:
Postar um comentário