A: Cara, tô feliz com minhas Cielos subindo 100%...
B: É... (p@%$#, devia ter comprado...)
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Markku
Kaustia e Samuli Knüpfer
Journal of
Financial Economics. Volume 104. Ed. 2. 2012
Todos os que convivem com pessoas
com uma renda razoavelmente elevada ou que estudem em cursos de administração,
economia, contabilidade ou engenharia já devem ter ouvido alguma pessoa contar
seus feitos na bolsa de valores. Os que já investem em ações podem
eventualmente sentir uma pontada de inveja, por não estar indo tão bem, ainda
mais dependendo da forma como a pessoa se comunica. E quem está fora quer
entrar. Será?
O artigo de Kaustia (o mesmo de um
artigo sobre preferências políticas e participação no mercado, já analisado aqui)
e Knüpfer analisa a relação entre o desempenho de pessoas próximas e a decisão
de entrar no mercado acionário. A interação social influencia diversos tipos de
comportamento, incluindo o aprendizado, decisões no mercado de trabalho e
decisões de consumo. Dois canais podem influenciar a decisão de investir em
ações por conta do desempenho dos pares: o primeiro é a reavaliação das
perspectivas sobre o desempenho futuro das ações (hipótese da extrapolação) e o
segundo é preocupação com riqueza relativa.
A pesquisa foi feita na Finlândia
entre 1995 e 2002 com informações da depositária central do país, uma base de
dados (assustadoramente) detalhada das operações dos investidores. Os autores
agregaram os investidores por CEP e calculam diversas variáveis, dentre elas a
taxa de entrada e o “retorno das redondezas”. A taxa de entrada é calculada com
base na data da primeira operação de compra do investidor, excluindo aquisição
de ações por outros meios (oferta de ações, herança, presente etc.), e é
definida de duas maneiras: número de novos investidores dividido pela população
do CEP ou pelo número de não investidores. Para fins de descrição da população,
os autores procuraram os fatores que determinam a taxa de entrada no mercado,
renda, patrimônio e escolaridade sendo fatores determinantes. Já o retorno das
redondezas é o retorno da carteira agregada do CEP, com ponderação igual da
carteira dos investidores. Os autores utilizam defasagem de um mês, ou seja,
analisam a taxa de entrada de um mês com os retornos do mês anterior. A
periodicidade das observações é mensal.
A hipótese é que haja uma relação
positiva entre as duas variáveis porque as pessoas contam sobre suas
experiências a pessoas próximas e histórias de sucesso na bolsa incentivariam
os outros a investir em ações. Claro que essa definição de variáveis não é
perfeita, porque pessoas de uma região interagem com pessoas de outras, mas
constatar uma relação positiva seria sugestivo. Outras variáveis serão
analisadas em conjunto, como a taxa de participação (número total de
investidores no CEP dividido pela população) do mês anterior, já que é provável
que a taxa de entrada seja menor em um local onde já há bastante investidores.
E os resultados da análise indicam
que há uma relação entre a taxa de entrada e os retornos das redondezas no mês
anterior, adotando as duas definições de taxa de entrada. O aumento de 1 desvio
padrão nos retornos resultam em aumento na taxa de participação de 0,085 pontos
base, ou 9,4% da taxa de entrada média. Separando os CEPs pela taxa de
participação, nota-se que o efeito dos retornos na taxa de entrada é maior em
regiões já com maior taxa de participação, mesmo controlando por essa variável.
Isso reforça que há um aprendizado social, já que em regiões com maior taxa de
participação haverá mais pessoas falando sobre seus ganhos no mercado, o que
irá “contaminar” os demais. Imagine que em uma roda de amigos só um dentre dez
invista em ações: mesmo que esse esteja obtendo retornos expressivos, o assunto
provavelmente não virá a tona; porém, se for quatro dentro dez, haverá mais
chance de tocarem no assunto, influenciando os demais seis dentre dez. Ponderar
por valor, não igualmente, produz um coeficiente menor, o que indica que mais
importante é o número de investidores ganhando do que o ganho médio em si.
Ponderar por valor geralmente é uma boa ideia, mas aqui faz com que se analise
mais os retornos dos maiores investidores e menos da maioria, que é o grupo
mais relevante na análise de influência social. No exemplo da roda de amigos,
mais vale quatro investidores com retornos razoáveis do que um ganhando por
quatro na hora de influenciar a decisão dos outros integrantes.
A relação positiva entre as
variáveis tem uma fraqueza. O mais provável é que as pessoas contem mais sobre
seus sucessos do que sobre seus fracassos, seja por gostarem mais de falar de
suas experiências positivas, seja para passarem uma imagem melhor e extrair
benefícios privados, seja por creditarem à sua competência o bom retorno. Para
não passar uma imagem ruim, as pessoas deixariam de contar sobre seus
fracassos, porém, a relação positiva entre retorno da redondeza e taxa de
entrada sugere que retornos negativos levariam a saídas líquidas porque pessoas
contariam também sobre seus fracassos. Isso é o que se chama de comunicação
seletiva.
A próxima etapa da análise é
separar os retornos positivos e os negativos. Os resultados indicam que a taxa
de entrada é influenciada exclusivamente pelos retornos positivos, coerente com
a hipótese de comunicação seletiva. E quanto maior o retorno, maior o impacto
na taxa de entrada. Restrições a vendas a descoberto, que aparentemente não
foram incluídas nas carteiras (ou não houve vendas a descoberto) provavelmente
influenciam esses resultados.
Outros fatores poderiam explicar
esses resultados, além da extrapolação e da comunicação seletiva. O chefe do
domicílio poderia comprar ações em nome de outros membros da família, o que
aumenta a taxa de participação sem que isso seja resultado da interação social
analisada pelos autores. Essa situação é contornada analisando apenas os homens
nascidos entre 1948 e 1968 (ou seja, que tenham entre 27 e 54 anos), grupo que
os autores acreditam ser menos passíveis de virem a ganhar ações de presente de
outras pessoas da família. Os resultados são parecidos com as análises
principais.
Fatores locais além da interação
social poderiam afetar a decisão de entrar no mercado. Dois canais poderiam
aumentar a riqueza local e, com isso, aumentar a taxa de participação sem que
haja necessariamente o efeito dos contatos sociais. Os autores isolaram o
efeito do retorno das redondezas em municípios onde na há sede de empresas ou
que não haja empresas no raio de 30 quilômetros, mas os resultados mostram que
não há diferença entre regiões com ou sem empresas sediadas, de forma que esse
tipo de choque local não determina a relação estabelecida. Em seguida, os
autores isolam as regiões onde há número acima da meda de donos de imóveis
próprios ou de empreendedores, o que poderia elevar a renda nessas regiões,
também não encontrando resultados significativos. Poderia acontecer dos
retornos com ações em um mês afetar a decisão de entrada nos próximos meses por
algum aumento da renda local, mas retornos da redondeza com mais de dois meses
de atraso não geram resultados significativos.
Poderia acontecer dos novos
investidores decidirem entrar no mercado adquirindo as ações que os
investidores locais compram, independente dos retornos obtidos por esses
investidores. Os autores examinam esse caso analisando apenas ofertas públicas
iniciais, já que nenhum investidor teria aplicado anteriormente nessas ações.
Ainda há uma relação positiva entre os retornos e a taxa de entrada mesmo
considerando apenas essas ações, e em magnitude superior ao dos resultados
base. Estudo anterior dos mesmos autores (aqui)
mostram que boas experiências com IPOs gera mais demanda por essas ofertas
pelos investidores, e o novo estudo mostra que os retornos dos pares acaba por
gerar interesse por ofertas iniciais.
Por fim, poderia acontecer da
cobertura local da imprensa afetar a decisão de entrada, e poderia haver uma
correlação entre maior cobertura e retornos da região. No entanto, a imprensa é
bastante concentrada na Finlândia, não havendo muitas estações de TV ou jornais
locais, os meios nacionais dominando o mercado. Há meios de comunicações do
nível das províncias/estados, mas a análise já leva em conta efeitos fixos das
províncias, de forma que qualquer diferença na cobertura do mercado já deveria
estar incorporada nas análises.
Em suma, o resultado da pesquisa
de Kaustia e Knüpfer sugere que investidores que estejam com ganhos positivos
no mercado contem seus bons resultados para pessoas próximas e isso acaba por
influenciar a decisão de não investidores de começar a aplicar em ações. Como
mencionei no primeiro parágrafo, essa é uma sensação que muitos devem ter, e
esse artigo acaba por confirmar essa impressão. E o mais interessante é o
efeito assimétrico, todos os gênios dos investimentos que jogavam aos quatro
ventos seu bom desempenho sumindo quando o mercado começa a entrar em um
período de baixa. Mais modernamente, basta acompanhar o Twitter de alguns
investidores ou analistas: quando eles sumirem por um tempo da rede social, já
sabe o que está acontecendo...
Fonte da imagem: Esquire
Fonte da imagem: Esquire
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