Nesse texto, vou abordar dois assuntos (os que estão no título) que não tem muito a ver exceto pelo fato de que tirei a inspiração de um mesmo livro, What theinvestors really want de Meir Statman, que ainda terá uma resenha aqui.
Fundos de
dividendos
No sétimo capítulo, sobre o dilema entre poupar
para o amanhã e gastar para o hoje, Statman faz uma colocação que depois parece
óbvia, mas que achei interessante. Na fase de acumulação, nós temos que
procurar transformar renda em capital; já na fase de desinvestimento, o desafio
é transformar capital em renda.
É justamente isso que os fundos que pagam
dividendos direto para o cotista podem fazer. Particularmente, nunca me
interessei por títulos de renda fixa que pagam cupom. Ações que pagam dividendo
geram a necessidade de reinvesti-los para manter o mesmo capital investido e,
como o próprio Statman coloca, há a tentação de gastar o dividendo de outra
maneira (idem para cupom). No caso dos fundos de dividendos diretos, a vantagem
tributária é um fator importante. Se não houvesse isso, seria pior para o
cotista receber os dividendos, da mesma forma que acontece com o CDB que paga
juros mensais.
Não sei se há um mecanismo de reinvestimento
automático dos dividendos nos fundos de dividendos diretos. Se há, seria
interessante. Na fase de acumulação, o investidor recebe o dividendo, mas ele
logo é reaplicado na compra de cotas, ganhando a vantagem tributária sem ter
nenhuma perda (nem que seja ficar um dia sem estar investido no fundo). O
investidor poderia manter esse fundo e, na fase de desinvestimento, utilizar os
dividendos para transformar capital em renda. O mesmo se aplica para títulos
que pagam cupom, mas aqui temos uma desvantagem tributária, que pode ser compensada
pelo fato de você não precisar vender o título para transformar em renda e
estar sujeito às taxas de mercado.
Ou seja, reinvestir os fluxos de caixa provenientes
dos investimentos, como já expliquei antes, nada mais é do que manter o
investimento, não aumenta-lo. Na fase de desinvestimento, o investidor já não
quer mais manter, quer reduzir e precisa encontrar maneiras eficientes de fazer
isso. Dividendos de ações ou do fundo, cupom e vencimento de títulos são boas
maneiras de desinvestir.
Títulos de
Renda Fixa
No capítulo dez, sobre aversão a perdas, o autor
compara títulos longos de renda fixa com redes de segurança com trampolim. No
contexto do capítulo, Statman coloca que o investidor pode realizar lucros se
houver ganhos de capital (que é o pulo no trampolim), mas que se cair o
investidor pode ficar tranquilo que receberá em algum momento o valor nominal,
que será superior ao valor investido.
Como ocorreu um pouco com o tópico anterior, achei
interessante, mas pensei eu outra coisa. Títulos longos de renda fixa servem
como uma rede de segurança sim, pelo motivo exposto por Statman, porque valerão
um valor fixo no vencimento. O preço cair não deveria ser um problema uma vez
que o investidor entende isso. Mas quando sobe, é porque as taxas de juros
estão caindo. Em mercados desenvolvidos, isso pode ocorrer durante uma crise,
quando as taxas dos títulos caem drasticamente por conta da pressão de compra
dos investidores e expectativa de queda nas taxas de juros do Fed. Ou seja, no
pior momento, esses títulos ainda produzem ganhos, que ajudam a compensar a
queda na bolsa.
Statman parece que separou as duas imagens (rede de
segurança e trampolim), mas pensei nas duas ao mesmo tempo: o investidor cai
(em crise, perde dinheiro), mas tem um impulso para cima, por mais modesto que
seja, ao bater na rede de segurança.
Foram esses os dois pontos que pensei a respeito do
livro e quis escrever um texto em separado para eles. No futuro, uma resenha do
livro inteiro.
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