Informalmente, acredita-se que a imprensa econômica influência o mercado acionário (às vezes, como indicador reverso) e o artigo “Journalists and the Stock Market” publicado na Review of Financial Studies procurou determinar como um determinado jornalista escrevendo para o Wall Street Journal pode influenciar de alguma maneira o desempenho do mercado.
Se
isso ocorrer, é mais um efeito sentimento do que informação, já que é
improvável que um jornalista possua informações exclusivas que afetem o mercado
como um todo de uma maneira tão expressiva, ao menos no caso em análise (uma
coluna de resumo do mercado). Também é incerto se os jornalistas influenciam ou
apenas refletem o sentimento do mercado.
Os
resultados da pesquisa (que estão detalhados na seção abaixo) concluem que os
jornalistas que escrevem para a coluna Abreast of the Market (AOTM) do Wall
Street Journal podem ter algum efeito no mercado, alguns positivos e outros
negativos, alguns servindo para intensificar um movimento, outros para atenuar.
De maneira mais geral, a impressão que se tem, de que a imprensa especializada
pode ter um impacto no mercado, parece se confirmar de acordo com essa análise.
Esse impacto é de curto prazo, mas existe.
A Pesquisa
A
metodologia dos autores é a de estudar especificamente a coluna Abreast of the
Market (AOTM), um resumo do mercado no dia anterior. Essa coluna é escrita por
diferentes jornalistas a cada dia e o objetivo é determinar se um deles em
específico consegue ter maior influência no mercado.
A
análise foi feita no período entre 1970 e 2007 e considerou o índice Dow Jones
como referência. Não entendi porque eles fizeram tanta questão de usar esse
índice, mas, pelo que eles colocam, os resultados não mudam utilizando outro
índice. Na análise, eles incluíram outros fatores relacionados com
previsibilidade de retornos como o dia da semana, liquidez e efeitos da
microestrutura do mercado como a diferença entre preços de compra e venda,
negociações não simultâneas, volume de negociações, volatilidade e efeito
janeiro.
Quanto
ao AOTM, os autores utilizaram apenas as colunas que possuem identificação do
autor, incluíram apenas aqueles que escreveram ao menos 50 colunas e excluíram
aqueles com mais de um autor. 25 autores foram incluídos e a amostra inclui
mais de 80% das colunas no período de análise.
Nas
análises univariadas e multivariadas, os autores esperam encontrar os efeitos
fixos dos jornalistas, o efeito que um determinado jornalista escrever a AOTM
tem nos retornos do mercado, tanto no mesmo dia quanto no dia seguinte. Mais
importante do que o efeito de cada um dos jornalistas, os autores destacam que
o poder explicativo do modelo aumenta em 35% considerando os efeitos fixos dos
jornalistas.
Outra
análise foi a do efeito condicional à situação de mercado. Mais
especificamente, faz a interação do retorno do mercado no dia da publicação e
no dia seguinte com os retornos no dia anterior. Dessa forma, os autores
esperam verificar se os jornalistas criam um efeito novo no mercado ou apenas
refletem o que aconteceria normalmente. Esse efeito condicional aumenta a
significância estatística dos efeitos fixos e aumenta o poder explicativo do
modelo.
Os
efeitos fixos incondicionais mostram o quão altista ou baixista o jornalista é.
Para os efeitos condicionais, a interpretação é que esse coeficiente mostra
quanto o jornalista amplifica ou atenua uma tendência de mercado, o coeficiente
positivo indicando o primeiro caso, negativo o segundo. A conclusão é que
alguns jornalistas parecem fazer com que as notícias pareçam melhor do que são
(ou pior, no caso de mercados de baixa) e outros parecem imprimir um tom mais
sóbrio nas altas e vê o lado positivo nas quedas.
Mas
é possível que haja um problema de endogeneidade, que certos jornalistas sejam
escolhidos para dar as boas ou as más notícias. Se assim for, qualquer efeito
que surja vem desse viés de escolha e não tem nada a ver com um determinado
jornalista podendo influenciar o mercado. Para contornar essa questão, os
autores utilizam variáveis
instrumentais, relacionadas com a variável independente (efeitos fixos dos
jornalistas), mas não com a dependente (retornos). Essas variáveis são dummies que indicam quem escreveu a AOTM
na semana anterior. Essas variáveis preveem quem irá escrever a coluna, mas não
os retornos. A inclusão nos modelos de regressão piora a significância
estatística, melhoram ligeiramente o r-quadrado, mas não invalidam de forma
alguma as conclusões anteriores, que permanecem muito parecidas.
Como
uma extensão, os autores procuram determinar quais traços estilísticos dos jornalistas
podem afetar os resultados dos seus modelos. Especificamente: tamanho das
sílabas, palavras por sentença, porcentagem de palavras complexas e Fog, que é
uma variável que indica quantos anos de estudo alguém de inteligência media
precisaria para entender o texto. As variáveis foram consideradas uma por uma.
Mais importante de todas é pessimismo, a diferença entre o número de palavras
negativas e positivas. Essa é uma variável importante, pois uma correspondência
entre o efeito da variável Pessimismo e o seu impacto no mercado podem
estabelecer uma relação causal. E, de fato, colocando em um gráfico Retorno x
Pessimismo, a linha é descendente, ou seja, quanto mais pessimista é o
jornalista, menor os retornos no dia da publicação, mas a linha é ascendente
para os retornos no dia seguinte.
Por
fim, os autores realizam uma série de testes de robustez, que não cabe aqui
detalhar, mas eles testaram por violações da premissa de que os resíduos são
independentes e seguem a distribuição normal, mudaram o índice de referência,
cortaram valores extremos, restringe a amostra para apenas os jornalistas que
mais escrevem, refinam o controle por efeitos fixos temporais, incorporam a
variável Pessimismo nas análises principais e tentam falsificar o exame
utilizando como variável os jornalistas que escrevem colunas futuras (o que,
obviamente, não deveria ter efeito algum). Nenhum desses testes invalida os resultados
das análises principais.
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