Kent Daniel,
Mark Grinblatt, Sheridan Titman e Russ Wermers.
Journal of
Finance. Volume 52. Julho, 1997.
Em três outros artigos aqui
comentados (aqui,
aqui
e aqui),
foi mencionado o modelo do artigo de Daniel et. al. (1997) para análise de
retorno de ativos ou carteiras, em substituição ou em complemento ao modelo
de três fatores. Neste texto, um comentário sobre o artigo mencionado e o
modelo sugerido.
O artigo é sobre análise de
desempenho de fundos. Em contraste com a análise de fatores (fator único como
no caso do Alfa
de Jensen, três fatores no caso de análises baseadas nesse modelo), o
modelo dos autores analisa o desempenho dos ativos individuais dos fundos. É
uma maneira de comparar os retornos com um índice de referência mais adequado,
comparando a carteira de um fundo com uma carteira hipotética de
características similares. Só pode ser implementada se soubermos qual é a
composição da carteira, mas pode ser uma abordagem mais direta, comparando um
fundo majoritariamente de small caps
com uma carteira composta em grande parte por ações desse porte, ao invés de
comparar com os fatores de mercado, de valor, de tamanho e de momentum (no caso
do modelo de quatro fatores). Esse método pode acabar superestimando o retorno
dos fundos ao ignorar os custos de transação, mas os próprios índices de
referência também são isentos de custos (porém, isso pode ser contornado
examinando os retornos brutos). O modelo ainda não recebeu outro nome se não
“Daniel et. al. (1997)” ou no máximo “índice de referência baseado em
características”.
As análises empíricas do artigo
tomam como os fundos de investimento americanos no período entre 1974 e 1994. As
características são as mesmas do modelo de quatro fatores: valor (valor
contábil/valor de mercado), tamanho e momentum. Examinando os fundos da base de
dados, os autores percebem que nem sempre se encaixam no estilo (crescimento,
valor, agressivo, balanceado etc.), mas que há uma certa consistência ao longo
do tempo, de forma que não parece ser provável a existência do comportamento de
tentar mudar de estilo ao sabor das ocasiões.
Na análise, os autores calculam o
retorno bruto baseado na carteira dos fundos e depois irá “subtrair” o retorno
da carteira de referência. Os autores irão comparar a sua abordagem com outras,
como o modelo de quatro fatores. Na abordagem baseada em características, o
modelo irá possibilitar a decomposição do desempenho em três indicadores. O primeiro
é o CS (Seletividade de característica),
com a classificação de todas as ações da base de dados em quintis das três
características (valor, tamanho e momentum), gerando 125 carteiras. Ou seja, se
uma ação está no 1º quintil de tamanho, de valor e momentum, será agrupado
junto com ações com as mesmas características, criando-se uma carteira
ponderada por valor. O CS é então a somatória da diferença entre o retorno da
ação componente da carteira do fundo e o retorno da carteira de referência,
multiplicado pelo peso da ação na carteira.
Esse indicador mostra o ganho da
carteira obtido ao se escolher a ação com melhor desempenho na comparação com
ações similares.
O segundo indicador é o CT (Tempo da característica), indicando que o
retorno da carteira pode ser explicado não só pelo estilo adotado, mas pela
escolha ativa de qual estilo empregar em determinada condição do mercado.
Matematicamente, o CT é a soma da seguinte conta: peso da ação no mês anterior
vezes o retorno dessa ação no mês anterior menos o peso da ação treze meses
atrás multiplicado pelo retorno nesse mesmo período.
O CT é tão maior quanto maior for
o peso quando o retorno é superior e quanto menor for quando o desempenho é
pior, tudo em relação a doze meses antes.
Por fim, há o indicador AS (Média
do estilo), que mostra o retorno que se deve à tendência natural de seu estilo.
O retorno da carteira de ações similares é multiplicado pelo peso da ação doze
meses antes, repetindo-se o processo para todas as ações componentes da
carteira.
Utilizar o peso retroativo elimina
o componente temporal da escolha. Se o gestor der mais peso para ações de
crescimento em um momento em que elas tiveram melhor desempenho, isso vai se
refletir no CT, mas não no AS. Por outro lado, um fundo que sempre tenha ações
de crescimento vai registrar um elevado AS. O retorno total na abordagem por
características é a soma desses três componentes.
As metodologias de comparação são
a empregada em Grinblatt
e Titman (1993) (GT), o Alfa de Jensen e o modelo de quatro fatores.
Os resultados das análises dos
autores indica que a métrica GT não levava em conta o fator momentum, e após
analisar o GT em função do modelo de quatro fatores o valor do GT cai de 191
pontos-base para 56 (com significância estatística). A medida CS analisando
todos os fundos é de 77 pontos base e estatisticamente significativo, e cai
para 56 pontos após a regressão do CS com o modelo de quatro fatores, ou seja,
não muda tanto do ponto de vista econômico. Esses dois resultados sugerem que
os gestores possuem alguma habilidade em selecionar ações, vencendo uma carteira
que siga mecanicamente o índice de referência. Porém, provavelmente os ganhos
não superam a taxa de administração (estimada em 100 pontos-base em média).
Em seguida, os autores analisam os
fundos utilizando os métodos de Alfa de Jensen e modelo de quatro fatores. Para
esses outros modelos, não há evidências de alfas positivos, indicando que na
média não há retornos anormais nos fundos. Porém, não parece que os autores
tenham utilizado retornos brutos dos fundos, de forma que esses resultados não
são tão importantes. Há ainda a análise separada por tipos de fundos, os
autores encontrando que os mais agressivos (crescimento agressivo e
crescimento) têm maior habilidade de seleção do que os menos agressivos
(renda-crescimento e renda-balanceado). Os tipos que tiveram melhor desempenho
investem mais em ações que tiveram melhor desempenho no passado, mas isso não
explica totalmente o desempenho superior.
A próxima análise é sobre a
persistência de desempenho dos fundos. Para que retornos passados indiquem
retornos futuros, os fundos de melhor desempenho passado deveria ter desempenho
futuro superior. Isso se verifica em termos de retornos brutos, com os fundos
no primeiro quintil tendo maiores retornos do que no último quintil. Porém,
utilizando-se as medidas de retornos anormais, não há evidências de
persistência, havendo até de reversão no modelo GT (possivelmente pelo fator
momentum).
Por fim, os outros indicadores (AS
e CT) são analisados, os autores não encontrando evidências de habilidade em
escolher o melhor momento de investir em determinadas ações (o CT não é
estatisticamente significativo na maioria dos casos). Os tipos de fundos que
tiveram pior desempenho segundo o CS também tiveram CT negativo e
significativos.
Em suma, os resultados do artigo
estão em linha com a literatura examinada anteriormente, não sendo encontrada
evidência de que os fundos ativos conseguem retornos superiores que justifiquem
seus custos e que os investidores poderiam obter resultados melhores se
seguissem mecanicamente um estilo de investimentos (investindo em fundos
passivos, por exemplo). Os resultados indicam que os gestores possuem
habilidades de seleção de ativos, mas que isso não gera ganhos suficientes para
cobrir o custo cobrado. Este texto ainda serviu para explicar o modelo de
Daniel et. al. (1997), às vezes referido como DGTW (1997).
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