sábado, 29 de setembro de 2012

As seis lições




(Economic Policy: Thoughts for today and tomorrow)
Ludwig Von Mises

Nasceu em 29 de setembro de 1881 o economista austríaco Ludwig von Mises, um dos principais nomes da Escola Austríaca de Economia. Neste texto, resenha de um livro básico sobre as ideias de Mises, o As Seis Lições. Trata-se de uma série de palestras proferidas em Buenos Aires na década de 1960 sobre seis tópicos de Economia. Essa é uma maneira bastante simples de se aprender Economia que pode ser complementada com a leitura de outras obras que aprofundem as seis lições desse pequeno livro (de pouco mais de 100 páginas).

A primeira lição é sobre capitalismo. Mises vê a origem do capitalismo no final do Feudalismo como uma maneira de atender as necessidades de um grande contingente da população, não atendida pelo sistema vigente, através de meios de produção em massa. Além disso, vê como peça fundamental do capitalismo a primazia dos consumidores e a concorrência entre fornecedores de um produto ou de bens rivais. É interessante nesse ponto a observação de que os supostos “reis” da indústria não reinam sobre nada, já que dependem de trocas voluntárias com os consumidores. No fim, são os consumidores, não os empregadores, que definem o quanto os empregados irão receber.

Mises contesta a visão de que a época da revolução era um desastre social, na medida em que, embora as condições de vida nas cidades não fossem as melhores, no campo eram muito piores. Antes da revolução industrial e mesmo contemporaneamente a ela, a Inglaterra mal podia sustentar uma população de seis milhões, enquanto que hoje abriga 50 milhões em condições bem melhores do que da época. E hoje em dia não há tanta diferença no atendimento das necessidades básicas ao menos no que se refere ao mínimo necessário: ricos e pobres têm alimento, roupa e abrigo nas principais economias capitalistas. Tudo isso foi possível pelo aumento no capital poupado e investido em projetos produtivos.

A segunda lição é sobre socialismo e liberdade econômica, “o poder de escolher o próprio modo de se integrar ao conjunto da sociedade”, essencial para obter outros tipos de liberdades (de expressão, de pensamento, de culto etc.). Uma boa definição de Mises a respeito da liberdade é que uma pessoa depende tanto dos demais como estes dependem dela, ou seja, para ser servido, precisa também servir. A maior ameaça à liberdade é o governo, que tem o poder de forçar as pessoas a fazer determinadas coisas, e muitas utiliza esse poder para forçar que as pessoas consumam ou deixem de consumir determinados bens ou serviços. O socialismo é justamente o contrário da liberdade econômico, a imposição pelo planejamento central de comportamentos de consumo e a definição de carreiras. Tirando a questão ética de utilizar a força como meio para alcançar os objetivos, esse planejamento central é ineficiente, pois falta o sistema de preços para que os agentes possam realizar cálculos econômicos. O conhecimento disperso na sociedade sobre preferências do consumidor e escassez não pode ser centralizado pelo governo, de forma que as transações econômicas ficam distantes de satisfazer as necessidades das pessoas. Sob liberdade econômica, uma pessoa pode inventar um produto e tentar vende-lo ao mercado, ganhando caso as pessoas gostem do produto, perdendo caso contrário; sob planejamento central, o produto irá ao mercado se o governo assim quiser, independente das preferências do consumidor (o mesmo vale para inovações militares e subsídios das artes, nos exemplos de Mises).

O terceiro capítulo é sobre o intervencionismo, ou seja, a atuação do governo além de suas funções legítimas, que são, segundo Mises, a de proteger os cidadãos dentro do país contra investidas violentas e fraudulentas de bandidos ou inimigos externos. O intervencionismo econômico faz com que os produtores ajam de uma maneira diferente da que fariam caso atuassem apenas guiados pelos desejos dos consumidores para satisfazer a agenda do governo. Os exemplos de intervencionismo adotados são os de controle de preços, estabelecendo mínimos e máximos, e Mises mostra como uma intervenção acaba levando a um número ilimitado de intervenções, como legislação antitruste para combater cartéis que só foram possíveis de existir por conta do intervencionismo. Se o processo não for interrompido, resultará no planejamento central abordado no capítulo anterior.

A inflação é tema da quarta lição. De começo, estabelece a questão não primariamente como um aumento nos preços, mas como um aumento na quantidade de dinheiro na economia. Em seguida, mostra como a inflação é uma forma do governo se financiar e como a inflação desorganiza o sistema econômico e pode levar ao colapso da economia de um país. Mostra também como não é possível criar prosperidade ou reduzir o desemprego através da emissão de moeda.

No quinto capítulo, Mises analisa as diferenças entre os países e a necessidade dos investimentos externos para a equalização das condições de vida entre os países. Como é necessário investimentos em capital para desenvolver o país, se o próprio país não tiver os recursos necessários, pode importar esses capitais do exterior, na forma de empréstimos (que deverão ser devolvidos no futuro) ou de participação nas empresas (ou seja, na exportação de ações das empresas). Mises mostra como isso funcionou em diversos exemplos, o principal sendo o de como a Alemanha alcançou o nível de desenvolvimento da Inglaterra graças aos recursos fornecidos pelos britânicos. O economista chega a classificar o investimento externo como o maior acontecimento histórico do século XIX. O problema é que os governos têm a tendência de adotar uma posição de hostilidade contra o investimento externo, podendo interferir através da expropriação (ou ameaça de expropriação) dos ativos detidos por estrangeiros ou por meio de protecionismo e tarifas.

No último capítulo, Mises escreve sobre política. Em sua visão, antigamente os participantes do sistema político partiam do pressuposto de que os cidadãos concordavam quanto à meta final da política, que é aumentar o bem-estar da nação. A luta partidária era totalmente legítima, porque há naturalmente discordância de opiniões quanto à forma de se alcançar esse fim. Partidos políticos são, dessa forma, uma reunião de pessoas com ideias semelhantes. Entretanto, o que temos hoje não são partidos políticos, e sim grupos de pressão tentando obter ganhos para si à custa dos outros. O declínio atual da política é parecido com aquele enfrentado no Império Romano, onde a economia ruiu quando passaram a predominar as ideias intervencionistas, socialistas e inflacionárias. A solução, segundo Mises, é a disputa de ideias, a tentativa de substituir as ideias ruins (e antigas, já refutadas em diversas ocasiões) pelas boas (que encontram resistências de grupos de pressão).

O livro é muito interessante ao apresentar importantes ideias econômicas de maneira bastante simples de entender. O interessado em conhecer mais da obra de Mises pode acessar o site do Mises Brasil, onde é possível ler gratuitamente diversos livros de Mises e autores relacionados. 

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Análise de desempenho de fundos baseada em características

(MeasuringMutual Fund Performance with Characteristic-Based Benchmarks)
Kent Daniel, Mark Grinblatt, Sheridan Titman e Russ Wermers.
Journal of Finance. Volume 52. Julho, 1997.

Em três outros artigos aqui comentados (aqui, aqui e aqui), foi mencionado o modelo do artigo de Daniel et. al. (1997) para análise de retorno de ativos ou carteiras, em substituição ou em complemento ao modelo de três fatores. Neste texto, um comentário sobre o artigo mencionado e o modelo sugerido.

O artigo é sobre análise de desempenho de fundos. Em contraste com a análise de fatores (fator único como no caso do Alfa de Jensen, três fatores no caso de análises baseadas nesse modelo), o modelo dos autores analisa o desempenho dos ativos individuais dos fundos. É uma maneira de comparar os retornos com um índice de referência mais adequado, comparando a carteira de um fundo com uma carteira hipotética de características similares. Só pode ser implementada se soubermos qual é a composição da carteira, mas pode ser uma abordagem mais direta, comparando um fundo majoritariamente de small caps com uma carteira composta em grande parte por ações desse porte, ao invés de comparar com os fatores de mercado, de valor, de tamanho e de momentum (no caso do modelo de quatro fatores). Esse método pode acabar superestimando o retorno dos fundos ao ignorar os custos de transação, mas os próprios índices de referência também são isentos de custos (porém, isso pode ser contornado examinando os retornos brutos). O modelo ainda não recebeu outro nome se não “Daniel et. al. (1997)” ou no máximo “índice de referência baseado em características”.

As análises empíricas do artigo tomam como os fundos de investimento americanos no período entre 1974 e 1994. As características são as mesmas do modelo de quatro fatores: valor (valor contábil/valor de mercado), tamanho e momentum. Examinando os fundos da base de dados, os autores percebem que nem sempre se encaixam no estilo (crescimento, valor, agressivo, balanceado etc.), mas que há uma certa consistência ao longo do tempo, de forma que não parece ser provável a existência do comportamento de tentar mudar de estilo ao sabor das ocasiões.

Na análise, os autores calculam o retorno bruto baseado na carteira dos fundos e depois irá “subtrair” o retorno da carteira de referência. Os autores irão comparar a sua abordagem com outras, como o modelo de quatro fatores. Na abordagem baseada em características, o modelo irá possibilitar a decomposição do desempenho em três indicadores. O primeiro é o CS (Seletividade de característica), com a classificação de todas as ações da base de dados em quintis das três características (valor, tamanho e momentum), gerando 125 carteiras. Ou seja, se uma ação está no 1º quintil de tamanho, de valor e momentum, será agrupado junto com ações com as mesmas características, criando-se uma carteira ponderada por valor. O CS é então a somatória da diferença entre o retorno da ação componente da carteira do fundo e o retorno da carteira de referência, multiplicado pelo peso da ação na carteira. 


Esse indicador mostra o ganho da carteira obtido ao se escolher a ação com melhor desempenho na comparação com ações similares.

O segundo indicador é o CT (Tempo da característica), indicando que o retorno da carteira pode ser explicado não só pelo estilo adotado, mas pela escolha ativa de qual estilo empregar em determinada condição do mercado. Matematicamente, o CT é a soma da seguinte conta: peso da ação no mês anterior vezes o retorno dessa ação no mês anterior menos o peso da ação treze meses atrás multiplicado pelo retorno nesse mesmo período.


O CT é tão maior quanto maior for o peso quando o retorno é superior e quanto menor for quando o desempenho é pior, tudo em relação a doze meses antes.

Por fim, há o indicador AS (Média do estilo), que mostra o retorno que se deve à tendência natural de seu estilo. O retorno da carteira de ações similares é multiplicado pelo peso da ação doze meses antes, repetindo-se o processo para todas as ações componentes da carteira. 


Utilizar o peso retroativo elimina o componente temporal da escolha. Se o gestor der mais peso para ações de crescimento em um momento em que elas tiveram melhor desempenho, isso vai se refletir no CT, mas não no AS. Por outro lado, um fundo que sempre tenha ações de crescimento vai registrar um elevado AS. O retorno total na abordagem por características é a soma desses três componentes.

As metodologias de comparação são a empregada em Grinblatt e Titman (1993) (GT), o Alfa de Jensen e o modelo de quatro fatores.

Os resultados das análises dos autores indica que a métrica GT não levava em conta o fator momentum, e após analisar o GT em função do modelo de quatro fatores o valor do GT cai de 191 pontos-base para 56 (com significância estatística). A medida CS analisando todos os fundos é de 77 pontos base e estatisticamente significativo, e cai para 56 pontos após a regressão do CS com o modelo de quatro fatores, ou seja, não muda tanto do ponto de vista econômico. Esses dois resultados sugerem que os gestores possuem alguma habilidade em selecionar ações, vencendo uma carteira que siga mecanicamente o índice de referência. Porém, provavelmente os ganhos não superam a taxa de administração (estimada em 100 pontos-base em média).

Em seguida, os autores analisam os fundos utilizando os métodos de Alfa de Jensen e modelo de quatro fatores. Para esses outros modelos, não há evidências de alfas positivos, indicando que na média não há retornos anormais nos fundos. Porém, não parece que os autores tenham utilizado retornos brutos dos fundos, de forma que esses resultados não são tão importantes. Há ainda a análise separada por tipos de fundos, os autores encontrando que os mais agressivos (crescimento agressivo e crescimento) têm maior habilidade de seleção do que os menos agressivos (renda-crescimento e renda-balanceado). Os tipos que tiveram melhor desempenho investem mais em ações que tiveram melhor desempenho no passado, mas isso não explica totalmente o desempenho superior.

A próxima análise é sobre a persistência de desempenho dos fundos. Para que retornos passados indiquem retornos futuros, os fundos de melhor desempenho passado deveria ter desempenho futuro superior. Isso se verifica em termos de retornos brutos, com os fundos no primeiro quintil tendo maiores retornos do que no último quintil. Porém, utilizando-se as medidas de retornos anormais, não há evidências de persistência, havendo até de reversão no modelo GT (possivelmente pelo fator momentum).

Por fim, os outros indicadores (AS e CT) são analisados, os autores não encontrando evidências de habilidade em escolher o melhor momento de investir em determinadas ações (o CT não é estatisticamente significativo na maioria dos casos). Os tipos de fundos que tiveram pior desempenho segundo o CS também tiveram CT negativo e significativos.

Em suma, os resultados do artigo estão em linha com a literatura examinada anteriormente, não sendo encontrada evidência de que os fundos ativos conseguem retornos superiores que justifiquem seus custos e que os investidores poderiam obter resultados melhores se seguissem mecanicamente um estilo de investimentos (investindo em fundos passivos, por exemplo). Os resultados indicam que os gestores possuem habilidades de seleção de ativos, mas que isso não gera ganhos suficientes para cobrir o custo cobrado. Este texto ainda serviu para explicar o modelo de Daniel et. al. (1997), às vezes referido como DGTW (1997).

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

A semana (08-24/09)

Finanças
Dividendo de ação dá mais retorno que renda fixa – A velha estória do rendimento com dividendos e o plus a mais do ganho de capital.


Mercado vê ‘quebra de contrato’ e elétricas perdem R$ 21 bi em dois dias – Destruição de valor de R$ 21 bilhões? Not bad.




Apple-less Dow faces changes to make-up – Não faz muito sentido a Berkshire Hathaway (pouca liquidez e quase um índice por si só) e Google (muito nova) no Dow Jones, mas poderia ter Apple, que é a mais valiosa dos Estados Unidos. Se tem até Cisco Systems, por que não Apple?

'Apple-Less Dow' Is A Good Thing – Artigo do Seeking Alpha discorda do texto linkado acima (e dos meus comentários por tabela).

Economia




Previsões para o Nobel de Economia: Stephen Ross e Robert Shiller são boas pedidas em Finanças (não posso dizer muito a respeito de outras áreas), mas ainda preferiria Eugene Fama antes (ou mesmo junto) de Shiller, se não pela qualidade das ideias, ao menos pelo critério de influência. Poderia até haver um prêmio conjunto Fama, Ross e Shiller. Leonardo Monastério comenta, acha improvável que o prêmio já para Finanças (e eu concordo) e cita como seus favoritos Darrel Duffie (que eu não conheço), além de Ross e Fama.

Preço da gasolina cai antes de eleição e sobe logo depois, diz estudo – Não li o paper, mas parece muito interessante. E certamente que não é de hoje que a gasolina é utilizada como instrumento político (como é mostrado no estudo).





A Capital Gains Primer – “Democrats who argue for higher taxes on capital are advocating less investment and dooming workers to fewer jobs at lower wages.”

Liberdades Individuais
O fim da propaganda governamental: será que passa? – Improvável, mas podemos sonhar.



Projeto quer proibir diferença abusiva entre pré e pós-pagos – Mais um burocrata mexendo com o que não sabe. Se aprovado, o projeto não vai diminui o preço dos prés, vai aumentar o dos pós. E precisa ainda explicar porque as empresas de telefonia querem tanto vender planos pós, se o preço é menor.


Livros


The Cult of Significance por Márcio Laurini. Confira também os comentários do post.

Frases da semana
"É impossível dar o reajuste do piso a professor". Nos tempos de oposição, era falta de vontade política.

Estado tem de gastar em época de crise, diz economista – E também nas recuperações, para não prejudicar a retomada, e também nos momentos bons, para continuar no ritmo, e também nas euforias, para que continuemos a adiar uma desaceleração, e nas desacelerações, para tentar retomar o forte ritmo de crescimento... [é ironia]

Piada da semana

Proposta eleitoral da semana
Candidato promete que as pessoas deixarão de andar de ônibus como sardinhas e latas e promete diminuir o preço da passagem de R$ 3 para R$ 2 e aumentar o tempo de “gratuidade” entre passagens para seis horas. Não se sabe se na mente confusa do candidato a segunda e a terceira propostas tem a ver com a primeira, mas é óbvio que, tudo o mais constante, há uma incompatibilidade entre as propostas, já que as últimas vão aumentar a demanda por transporte público.

Blog
Esse é o terceiro “A semana” consecutivo em mais de três semanas (ainda estou procurando um nome melhor do que “A semana” e do que o antigo “Links”). Espero escrever um texto para o blog ainda essa semana. Do dia 29, aniversário de um falecido economista já falecido, não passa.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

A semana (04-07/10)

Finanças
Bradesco – “(...)a nova decisão comete outro erro: mudou a multa para juros simples. Este regime de capitalização só existe nos livros de matemática financeira e na justiça brasileira.”


1) Essa tal tirania é apenas um espantalho que criaram. Na prática, os administradores das empresas querem poder e dinheiro para eles, não para os acionistas.

2) De novo a tal frase de Jack Welch? Ninguém nunca se preocupou em verificar essa frase e ver que a frase está fora de contexto? Quantas vezes vão repetir essa mentira?

3) “There is only one value definition of business purpose: to create customer”. Ou seja, as empresas deveriam cobrar nada por seus produtos. Isso criaria um número gigantesco de consumidores. Quem se dispõe a fazer isso? Ou só vale com dinheiro dos outros?

4) “Instead, companies should place customers at the center of the firm and focus on delighting them, while earning an acceptable return for shareholders”. E qual é essa taxa aceitável? Roger Martin parte do pressuposto que todas as empresas do mundo ganham dinheiro, quando um grande número perde. E com o recente desempenho do mercado acionário, quem dirá que os acionistas estão ganhando dinheiro demais?

5) “If you take care of customers, writes Martin, shareholders will be drawn along for a very nice ride. The opposite is simply not true: if you try to take care of shareholders, customers don’t benefit and, ironically, shareholders don’t get very far either.” Essa parte resume todo o erro do artigo e de similares, confundir objetivo com estratégia. Ninguém duvida que satisfazer os consumidores pode ser lucrativo. O que não faz com que o objetivo principal seja satisfazer o consumidor, e não ganhar dinheiro.

6) Qual é o objetivo da empresa, na minha opinião? Criar valor. Em um verdadeiro capitalismo (não o intervencionismo ou o capitalismo de compadrio que temos hoje), as pessoas são livres para realizar transações econômicas e só conseguem obter algo se trocarem por outra coisa que seja valiosa para o outro (infelizmente os políticos e os compadres que pagam suas eleições estragam tudo). Certamente que a empresa deve criar valor para o consumidor, oferecendo um produto que traga mais benefício do que o produto custa. Certamente que deve criar valor para os trabalhadores, oferecendo mais benefícios (remuneração, status, qualidade de vida etc.) do que o custo do trabalho (esforço, dedicação etc.). O mesmo para todas as pessoas envolvidas. Se sobrar alguma coisa (e nem sempre sobra), fica com os acionistas, que são os únicos sem garantias contratuais de ganhos. E o critério deveria ser a maximização de valor para o acionista. O preço que maximiza o valor para o consumidor é zero; melhor, poderíamos pagá-lo para receber o produto. Mas o preço que maximiza o valor para o acionista não é infinito, ou algo exorbitante, graças à curva de demanda crescente em relação ao preço. Porque o acionista é o único que não tem bases legais para reclamar de uma baixa remuneração (no máximo poderia processar a administração por não cumprir a lei no que se refere à governança) e porque são associados com grandes banqueiros internacionais (ao mesmo tempo que tentam atrair acionistas pessoa física para a bolsa), é fácil oferece-los para o sacrifício. Difícil é a pessoa que advoga essas ideias botar o seu dinheiro e maximizar o valor para o consumidor, para o trabalhador, para quem quer que seja.

7) Em linguagem simples, o acionista é o cara que fica com o que sobra. É o único que depende de todos os outros. Simplificando ao máximo, não importa para o consumidor qual o salário do trabalhador ou os custos de produção; para o trabalhador, não importa qual é o excedente do consumidor ou os custos de produção; para os fornecedores, não importa se a empresa irá conseguir vender os produtos para os consumidores finais ou quanto está pagando para seus funcionários; para os acionistas, tudo isso importa.

8) “Nevertheless, despite the challenge of implementation, the transition to customer capitalism is occurring inexorably, not because academics recommend it or merely because it is better for customers, for employees and for society as a whole, but rather because it defeats shareholder capitalism on its own terms: it is more profitable for the organization itself.” Então o objetivo pode continuar sendo maximização de valor ao acionista, basta mudar de estratégia. No fim, o autor é um defensor da ideia que ataca, embora não o saiba.

9) “It is the path of customer capitalism, which leads to exponential growth in profitability, delighted customers and inspired workers.” Os trabalhadores inspirados surgiram de repente nessa história, sem explicar como eles ficarão inspirados.

10) Faltou ainda falar por que os administradores deleitariam o cliente. Críticas sobre as formas com que se buscou alinhar interesses de acionistas e administradores (como as feitas no texto) são válidas, mas não podem ser substituídas pelo vácuo, como o autor faz.


Economia

Mantegada Semanal #34 - "Se houver aumento de preços, vai criar inflação. E não queremos isso". Uau!

Mais uma rodada de proteção para a indústria – “Os ministros estão apenas substituindo os produtos que você escolheu, por similares nacionais que eles escolheram.”

Imposto mais alto atinge 4% da importação brasileira – Mas 100% dos compadres, e é isso que importa.


The six-peso diet – Alguém ainda leva esse INDEC argentino?

Outros assuntos


Tweet da semana
@liberplus “Quero uma justificativa para não investir 100% do PIB em educação, que não se aplique a investir em 10%.” Uma que se aplique a 10% e não ao porcentual atual ou a 15% ou 9,99% já seria suficiente.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

A semana (20/08-03/09)

Finanças

Carros: conheça a (caríssima) Estrutura de Preços no Brasil – Fiquei feliz no ponto 3.1., mas o quarto ponto retoma o uso indevido, na minha opinião, do custo de oportunidade. Cash flow, guys, cash flow...


Economia

O PIB janta com Lula – Ãh… o capitalismo de compadrio…



More work, less play: Rinehart sets out road to riches – O engraçado é como a discussão descamba para a questão da qualidade de vida ou que uma das grandes coisas da Austrália é beber e se divertir. O ponto de Rinehart é que as pessoas querem ganhar dinheiro de graça e não querem saber dos sacríficos necessários: trabalhar, estudar, poupar, investir, tomar risco etc. Sem isso, ou a pessoa ganha na loteria ou faz conluio com o governo.

Caixa recebe capitalização de R$ 1,5 bi do Tesouro e já negocia novos aportes – Mau sinal para o pagador de impostos. Resgates a vista.

Rede de cinema é multada por descumprir lei da meia-entrada no Rio – Na prática, a grande maioria dos jovens com menos de 121 aos pagam meia-entrada.


Junk Food Costs Its Buyers More – O sujeito é desmentido por ele mesmo! 2011: “The fact is that most people can afford real food.”. 2012: “Not everyone can afford fresh fruits and vegetables, especially from farm stands!”

Canal do Otário: GOL 1.0 – Volkswagen – Na parte dos culpados, concordo com o número 1 (governo), principalmente pelo imposto não mencionado, o de importação que protege da concorrência externa e possibilita os preços elevados, mas não tanto com os 2 e 3 (montadoras e bancos financiadores) por conta do quarto item: o próprio consumidor. As montadoras cobram o que querem, os bancos idem, mas o consumidor tem o maior poder de todos, o de dizer não. Se continua comprando mesmo com preços elevados e financiamentos caros, é porque julgam a transação como justa para eles.


Liberdades Individuais


Barreira a vinho importado não deve sair – Vitória da liberdade ou lobby fraco?

Uma única lição de economia – “O estado natural do homem é a pobreza, e não a riqueza” e o objetivo da organização econômica é sair desse estado natural. O texto me fez lembrar da análise alquímica-econômica do livro Dinheiro e Magia: tudo que precisamos para ter a tecnologia de hoje sempre esteve a disposição do homem, mas é necessário extrair valor econômico da natureza.

Projeto proíbe lanchonetes de vender refeição junto com brinquedos – Começa inocentemente com brinquedos e lanches. Quando a gente abre o olho...



Outros assuntos

Frente quer 10% do orçamento para a saúde – Que fetiche por 10%. Será que é a comissão padrão?

Matemática da semana
“O que parece ser uma bobagem, como uma economia de 0,1% ao mês, durante 20 anos equivale a 100% a mais." – =(1,001^(12*20)) = 1,27 < 2. Close enough!

Leituras
Na última edição do Journal of Finance tem um artigo muito interessante do Rajan Raghuram, The Corporation in Finance. Um parágrafo muito bom logo no começo:

“A estrutura da firma abrange as pessoas que trabalham para ela, o modo como seu trabalho é organizado e compensado, os ativos que possui, a natureza da propriedade e do controle da firma, as relações da firma com fornecedores e compradores etc. Quando pensamos sobre seu financiamento, nos referimos à variedade de créditos que emitiu, a divisão entre financiamento interno e externo, e o poder de credores externos sobre as decisões operacionais e estratégicas, assim como sobre seus fluxos de caixa. A estrutura e o financiamento da firma se concentram ao redor de um problema comum: como criar VPL, qual seja, valor líquido de custos de oportunidade dos insumos, e então como alocar de volta aos agentes da economia de uma forma a maximizar criação de valor”.

Revisão do Ibovespa (set/12)

Entra
CTIP3: A Cetip abriu capital em 28 de outubro de 2009 e sobe 109,51% até 31/08, alta relativa de 2,37% a.m. sobre o Ibovespa. É a 24ª IPO recente no índice. A oferta foi exclusivamente secundária e caiu 9,54% no primeiro dia, uma raridade entre ofertas secundárias, o que não impediu que se atribuísse ao fato de ser uma oferta secundária o motivo da queda no primeiro dia.

SUZB5: Entre setembro de 1981 e maio de 1995, uma “Suzano” constava do Ibovespa. Além da Suzano Papel e Celulose (SUZB), há Suzano Holding (NEMO) e a antiga Suzano Petroquímica (que virou Quattor e depois foi incorporada pela Braskem). Creio que a Suzano no período mencionado seja a holding, já que consta que consta que a empresa de papel e celulose foi fundada em 1987 e listada em 1992. Logo, temos uma nova empresa entrando no Ibovespa.

Sai
TAMM4: A TAMM não saiu após a revisão, tendo saído antes por conta da fusão com a LAN e criação da Latam, empresa listada na Ibovespa como BDR e, portanto, não elegível ao Ibovespa. A empresa ficou pouco tempo no Ibovespa, tendo entrado em janeiro de 2007 pela primeira e única vez.

Maiores Pesos
VALE5: 9,129%
PETR4: 8,221%
OGXP3: 5,163%
ITUB4: 4,476%
PDGR3: 3,65%
BBDC4: 3,297%
BBAS3: 3,061%
BVMF3: 2,999%
VALE3: 2,891%
GGBR4: 2,587%

Soma: 45,474%

As lista de empresas com maior peso (contando VALE e PETR apenas uma vez e desconsiderando ITSA) inclui USIM5 (1,784%).

Maior ganho de peso: CCRO3 (+0,224 p.p.)
Maior perda de peso: CYRE3 (-0,215 p.p.)
Menor peso: TRPL4: 0,195

Número de empresas
Subiu para 324 com a Cetip e a Suzano Papel e Celulose.

Maiores participações há 10 anos
Telemar PN: 13,839%
Petrobras PN: 9,153%
Telesp Cl PN: 5,481%
Bradesco PN: 5,207%
Embratel PN: 4,647%
Eletrobras PNB: 3,56%
Itaubanco PN: 3,533%
Petrobras ON: 3,156%
Vale R Doce PNA: 2,882%
Cemig PN: 2,785%

Soma: 54,243%

Peso das IPOs
A quantidade de IPOs subiu para 24 (34,78% do número de ações), com participação de 31,348% (30,61% na revisão anterior).

Outros índices
A BM&F Bovespa resolveu aproveitar a ocasião e lançar novos índices. Tem o IGC-NM, espécie de IGC apenas com empresas do Novo Mercado, mas os que são mais novidade são o índice de BDR não-patrocinados (BDRX) e Índice de Fundos de Investimentos Imobiliários (IFIX). Escreverei sobre os novos índices como já escrevi sobre os antigos.

Mensais: Brasil (ago/12)

Índices Brasileiros
Índice; 60 meses; Ano; 12 meses
Ibovespa; 4,44%; 0,54%; 1,00%
IBX 50; 6,38%; 1,50%; 5,51%
IBX; 14,17%; 3,51%; 8,01%
ISE; 35,67%; 11,20%; 17,36%
IEE; 94,77%; 0,97%; 16,35%
IBRA; -; 4,97%; 9,57%
ICO2; -; 5,48%; 12,53%
INDX; 14,47%; 9,91%; 14,06%
Consumo; 85,94%; 20,50%; 27,82%
IFNC; -; 5,77%; 16,78%
UTIL; -; 8,54%; 27,96%
Imobiliário; -; 16,56%; 2,11%
IMAT; -; -1,13%; -7,14%
IVBX2; 21,20%; 13,62%; 15,24%
IGC; 14,40%; 8,49%; 11,86%
ITAG; 15,78%; 9,62%; 15,68%
Small Cap; -; 18,75%; 13,91%
IGC Trade; -; 5,81%; 9,72%
Mid Large Cap; -; 3,53%; 9,00%
IDIV; -; 9,43%; 21,89%

Comparações
Indicador; Desvio-padrão; Correlação IBOV; Retorno 60 meses; Retorno 12 meses
IBOV; 7,17%; 100%; 4,44%; 1,00%
Ouro; 5,94%; -18,59%; 161,67%; 16,81%
Dólar; 5,19%; -70,09%; 3,83%; 28,35%

Ibovespa x CDI
Janela; IBOV- CDI
12 meses; -8,04% a.a.
5 anos; -8,83% a.a.
10 anos; 3,93% a.a.

Ibovespa:
Maiores altas (2012):
SBSP3: 71,65%
HYPE3: 53,29%
CIEL3: 52,48%
CCOR3: 49,83%
NATU3: 46,69%

Altas: 34/67

Maiores altas (12 meses)
SBSP3: 94,16%
CIEL3: 84,00%
KLBN4: 77,91%
UGPA3: 60,04%
CMIG4: 59,21%

Altas: 37/67

Maiores baixas (2012)
OGXP3: -53,74%
USIM3: -44,49%
ELPL4: -43,16%
PDGR3: -31,07%
CSNA3: -29,84%

Maiores Baixas (12 meses)
USIM3: -58,16%
BTOW3: -50,34%
RSID3: -48,23%
PDGR3: -48,06%
GFSA3: -45,66%

Amostra de 216 ações:
Maiores altas em 5 anos
TELB4: 2.044,83%
HGTX3: 1.468,72%
CRUZ3: 358,03%
TAEE11: 301,14%
SAPR4: 284,83%

Maiores baixas 5 anos
VAGR3: -96,12%
VIVR3: -93,21%
LUPA3: -91,65%
PLAS3: -91,50%
BTOW3: -89,19%

Maiores sequências (179 ações)
Alta: SCAR3 (8 meses)
Baixa: AELP3 (9 meses)

Datas
14/09: 14 anos de fundação da Ambev (enquanto Ambev, após a fusão Antártica + Brahma)
14/09: 20 anos de fundação da Rasip Agro
14/09: 5 anos da quebra do Northern Rock
15/09: 40 anos de fundação da Arezzo
15/09: 40 anos de fundação da Café Solúvel Brasília (CAFE)
15/09: 112 anos de nascimento de John Burr Williams (1900-1989)
15/09: 4 anos da quebra do Lehman Brothers
16/09: 20 anos de fundação da Randon
26/09: 5 anos da IPO do banco ABC Brasil
28/09: 25 anos de fundação da Tec Toy
29/09: 131 anos de nascimento de Ludwig von Mises (1881-1973)

Fontes:
Bovespa.com.br
Economatica
Infomoney

Mensais: IPO (ago/12)

Serão consideradas as ofertas:
* Ocorridas a menos de 5 anos
* Que sejam realmente ofertas públicas iniciais
* Que ainda sejam negociadas, excluídas as que foram incorporadas por outras empresas.
* As ofertas dos últimos 12 meses foram desconsideradas por serem muito recentes

Taxa a.m. Retorno desde o primeiro dia de negociações expresso em meses.
IBOV a.m. Retorno do Ibovespa desde o primeiro dia de negociações do ativo
Ganho s/ Ibov: Taxa a.m. – IBOV a.m.

5 maiores altas relativas ao Ibovespa
Ação; Taxa a.m.; IBOV a.m.; Ganho s/ IBOV
RADL3; 3,67%; -0,81%; 4,48%
MPLU3; 3,80%; -0,65%; 4,46%
MILS3; 3,54%; -0,69%; 4,23%
ABRE11; 3,71%; -0,29%; 4,00%
ARZZ3: 3,17%; -0,82%; 3,99%

5 maiores baixas relativas ao Ibovespa
Ação; Taxa a.m.; IBOV a.m.; Ganho s/ IBOV
MILK1; -11,82%; -0,24%; -11,82%
HRTP3; -7,14%; -0,89%; -6,25%
AGEN11; -6,12%; -0,15%; -5,96%
OSXB3: -3,54%; -0,65%; -2,89%
QGEP3: -2,79%; -0,63%; -2,16%

33/47 ações estão com ganhos relativos (70,21%)

31/47 ações estão com ganhos absolutos (65,96%)