[Study of the effects on employment of public aid to renewable energy sources]
Gabriel Calzada Álvarez
Esse estudo procurou examinar as políticas de subsídio à energia renováveis adotadas na Espanha nos últimos anos. O foco principal é no efeito na criação de emprego que os incentivos governamentais tiveram. A ideia, muito em voga hoje em dia, é a de que o governo deve gastar dinheiro para incentivar a economia, se gastar em algo belo (a defesa do meio ambiente), melhor ainda, e o gasto em investimento irá gerar a necessidade de construção, e a construção vai gerar emprego e os gastos governamentais criarão empregos, o que aumentará a demanda, o que culminará no fim da recessão e prosperidade. Esse raciocínio encadeando causas e (uma) consequência parece fazer sentido. Mas produz os resultados desejados?
O problema de raciocínio, prontamente analisado pelos pesquisadores, é que a escolha não é entre gastar em investimentos em energia renovável ou não gastar em nada, deixar o dinheiro evaporar. Há infinitas destinações possíveis para o dinheiro que poderia ser investido, e o investimento em novas fontes de energia só seria vantajoso do ponto de vista econômico se gerar mais riqueza do que outras alternativas. Logo, o argumento “pense em toda a energia limpa que deixará de ser gerada” esbarra na parede do argumento inverso “pense em todos os investimentos alternativos que deixarão de ser feitos se investirmos em energia limpa”. Alocar recursos em algo será preferível se gerar mais resultados (geração de valor, de empregos etc.) do que uma alocação alternativa. Isso continua válido mesmo considerando que é o governo que irá gastar ou subsidiar já que o dinheiro do governo surge de algum lugar (ou de dívida ou de impostos), de forma que, nesse caso, a decisão é gastar ou deixar de se endividar ou de aumentar impostos. Certamente que investir em energia limpa (ou em qualquer outra coisa) irá produzir alguns resultados; a questão é se o mesmo montante investido de outra forma teria resultados melhores (mais produto, mais emprego etc.)
Evidências anteriores mostram que, a despeito das melhores intenções do mundo, a busca por energia limpa teve ou pode vir a ter efeitos colaterais indesejáveis. Essas medidas podem matar (há uma estimativa de 150.000 mortes extras só nos Estados Unidos), podem ter um efeito regressivo (pode prejudicar os pobres e beneficiar os ricos) e pode cortar empregos (discussão aprofundada no artigo).
O artigo apresenta as medidas políticas tomadas na Europa e na Espanha para aumentar a participação da energia limpa na matriz energética, incluindo uma meta de participação de 20% até 2020. O argumento da criação de empregos sempre esteve presente para cativar (ou subornar) politicamente. Em seguida, apresenta os números relacionados aos investimentos em energia eólica e solar, um avanço da geração de energia acelerado pela intervenção governamental na forma do estabelecimento de preços mínimos, de incentivos de crédito e de subsídios. Outro fator que contribuiu foi o ciclo de expansão da economia espanhola e da concessão de crédito no país, ciclo que encontrou o seu fim em 2008 (junto com o resto do mundo). O Plano de Energias Renováveis de 2005-2010 (políticos adoram planos de cinco anos) estabelecia que a participação deveria ser de 12% do total de energia primária (20% do consumo elétrico) até 2010.
Esses bastante generosos subsídios levaram a um crescimento porcentual de três (até quatro) dígitos na instalação de energia eólica e, principalmente, solar. O subsídio inicial era de 575% para instalações solares que gerassem até 100 kW e de “apenas” 300% para instalações maiores, o que gerava uma taxa interna de retorno de 17% (bastante elevada e com risco baixo, já que o negócio era garantido pelo governo). Isso levou qualquer um a investir nesse negócio e quando o incentivo passou a ser para operações maiores até grupos hoteleiros estavam investindo em energia solar. Porém, os custos de operação são elevados e os produtores sairiam dom negócio ou mudariam de operação não fossem os subsídios, de forma que a situação não parecia muito sustentável (paradoxalmente).
Não parece uma bolha: é uma bolha, que começou a ser estourada em 2008. Um novo decreto favoreceria as instalações solares em prédios e não no chão (em “fazendas solares”) dado o “movimento especulativo” que foi gerado nessa segunda forma (quem imaginaria que haveria um “movimento especulativo”?). Os subsídios foram reduzidos em quase 30%. Além disso, aplicou-se uma quota de capacidade para receber os subsídios. Tudo isso levou a uma redução nos investimentos e, surpresa!, perda de empregos.
Não foi só o governo que ajudou no crescimento dos investimentos. O crédito barato e farto na Espanha também ajudou, sendo canalizado em boa parte para o investimento em energias limpas. Isso começou a acabar em 2007 (com os primeiros sinais da crise) e piorou dali para frente. Mas nem tanto para o crédito para energias limpas, que manteve um elevado crescimento em 2008, às custas de um baixo crescimento do crédito para outras empresas. No fim, o investimento em energia subsidiada artificialmente atrativa acabou tirando crédito de investimentos que poderiam ser mais produtivos.
O resultado final foi a criação de 50.200 empregos diretos e indiretos por conta desses investimentos (segundo estimativas do estudo). O valor presente líquido dos subsídios foi de 28,6 bilhões de Euros, resultando em um custo de 571 mil euros por emprego gerado. Considerando que a média do estoque de capital por trabalhador era de 259 mil Euros, chega-se a um estimativa de perda de 2,2 postos de trabalho para cada emprego verde gerado. Outra forma de calcular essa perda ou ganho é comparar o subsídio anual por trabalhador com a produtividade média do trabalhador. A anuidade do subsídio calculada foi de 55.946€ e a produtividade média (renda com trabalho dividido pelo número de trabalhadores) é de 25.332€, resultando também em uma perda de 2,2 postos.
E quem paga a conta? Se os custos maiores forem absorvidos em tarifas maiores, isso afeta principalmente as indústrias que utilizam mais energia, como as siderúrgicas. Isso ocorreu, houve um aumento no preço da energia, e a última parte do artigo é dedicada à descrição dos efeitos dos maiores custos nas indústrias. Alternativamente, o governo poderia absorver “gratuitamente” esses subsídios via maior taxação ou maior endividamento (o que pode não ser uma boa ideia, vide eventos recentes envolvendo países europeus).
Os resultados da pesquisa mostram um ensinamento antigo em economia, que já deveria ter sido aprendido: não se cria empregos ou prosperidade estimulando a demanda ou aumentando custos (para supostamente aumentar a demanda), e sim aumentando a produtividade. Se a energia renovável é mais cara do que a energia convencional, é porque é menos eficiente e seu uso só serve para aumentar os custos. Preços de mercado mais elevados para esse tipo energia em comparação com outras fontes de energia mostram a desvantagem dessas fontes de energia, que exigem um maior “sacrifício” para serem utilizadas. Ou se tornam mais eficientes, ou não haverá espaço para essas tecnologias. E nada mudará isso.
A análise de várias falácias clássicas poderiam prever os resultados observados. A primeira análise é “A Lição” de Henry Hazlitt: é necessário não ver apenas os efeitos imediatos, mas também os de longo prazo de qualquer política e também o efeito para todos, não para apenas um grupo. Thomas Sowell classificaria as falácias empregadas no grupo de “Falácias de recursos ilimitados”, ignorar que os recursos possuem aplicações alternativas.
Gabriel Calzada Álvarez
Esse estudo procurou examinar as políticas de subsídio à energia renováveis adotadas na Espanha nos últimos anos. O foco principal é no efeito na criação de emprego que os incentivos governamentais tiveram. A ideia, muito em voga hoje em dia, é a de que o governo deve gastar dinheiro para incentivar a economia, se gastar em algo belo (a defesa do meio ambiente), melhor ainda, e o gasto em investimento irá gerar a necessidade de construção, e a construção vai gerar emprego e os gastos governamentais criarão empregos, o que aumentará a demanda, o que culminará no fim da recessão e prosperidade. Esse raciocínio encadeando causas e (uma) consequência parece fazer sentido. Mas produz os resultados desejados?
O problema de raciocínio, prontamente analisado pelos pesquisadores, é que a escolha não é entre gastar em investimentos em energia renovável ou não gastar em nada, deixar o dinheiro evaporar. Há infinitas destinações possíveis para o dinheiro que poderia ser investido, e o investimento em novas fontes de energia só seria vantajoso do ponto de vista econômico se gerar mais riqueza do que outras alternativas. Logo, o argumento “pense em toda a energia limpa que deixará de ser gerada” esbarra na parede do argumento inverso “pense em todos os investimentos alternativos que deixarão de ser feitos se investirmos em energia limpa”. Alocar recursos em algo será preferível se gerar mais resultados (geração de valor, de empregos etc.) do que uma alocação alternativa. Isso continua válido mesmo considerando que é o governo que irá gastar ou subsidiar já que o dinheiro do governo surge de algum lugar (ou de dívida ou de impostos), de forma que, nesse caso, a decisão é gastar ou deixar de se endividar ou de aumentar impostos. Certamente que investir em energia limpa (ou em qualquer outra coisa) irá produzir alguns resultados; a questão é se o mesmo montante investido de outra forma teria resultados melhores (mais produto, mais emprego etc.)
Evidências anteriores mostram que, a despeito das melhores intenções do mundo, a busca por energia limpa teve ou pode vir a ter efeitos colaterais indesejáveis. Essas medidas podem matar (há uma estimativa de 150.000 mortes extras só nos Estados Unidos), podem ter um efeito regressivo (pode prejudicar os pobres e beneficiar os ricos) e pode cortar empregos (discussão aprofundada no artigo).
O artigo apresenta as medidas políticas tomadas na Europa e na Espanha para aumentar a participação da energia limpa na matriz energética, incluindo uma meta de participação de 20% até 2020. O argumento da criação de empregos sempre esteve presente para cativar (ou subornar) politicamente. Em seguida, apresenta os números relacionados aos investimentos em energia eólica e solar, um avanço da geração de energia acelerado pela intervenção governamental na forma do estabelecimento de preços mínimos, de incentivos de crédito e de subsídios. Outro fator que contribuiu foi o ciclo de expansão da economia espanhola e da concessão de crédito no país, ciclo que encontrou o seu fim em 2008 (junto com o resto do mundo). O Plano de Energias Renováveis de 2005-2010 (políticos adoram planos de cinco anos) estabelecia que a participação deveria ser de 12% do total de energia primária (20% do consumo elétrico) até 2010.
Esses bastante generosos subsídios levaram a um crescimento porcentual de três (até quatro) dígitos na instalação de energia eólica e, principalmente, solar. O subsídio inicial era de 575% para instalações solares que gerassem até 100 kW e de “apenas” 300% para instalações maiores, o que gerava uma taxa interna de retorno de 17% (bastante elevada e com risco baixo, já que o negócio era garantido pelo governo). Isso levou qualquer um a investir nesse negócio e quando o incentivo passou a ser para operações maiores até grupos hoteleiros estavam investindo em energia solar. Porém, os custos de operação são elevados e os produtores sairiam dom negócio ou mudariam de operação não fossem os subsídios, de forma que a situação não parecia muito sustentável (paradoxalmente).
Não parece uma bolha: é uma bolha, que começou a ser estourada em 2008. Um novo decreto favoreceria as instalações solares em prédios e não no chão (em “fazendas solares”) dado o “movimento especulativo” que foi gerado nessa segunda forma (quem imaginaria que haveria um “movimento especulativo”?). Os subsídios foram reduzidos em quase 30%. Além disso, aplicou-se uma quota de capacidade para receber os subsídios. Tudo isso levou a uma redução nos investimentos e, surpresa!, perda de empregos.
Não foi só o governo que ajudou no crescimento dos investimentos. O crédito barato e farto na Espanha também ajudou, sendo canalizado em boa parte para o investimento em energias limpas. Isso começou a acabar em 2007 (com os primeiros sinais da crise) e piorou dali para frente. Mas nem tanto para o crédito para energias limpas, que manteve um elevado crescimento em 2008, às custas de um baixo crescimento do crédito para outras empresas. No fim, o investimento em energia subsidiada artificialmente atrativa acabou tirando crédito de investimentos que poderiam ser mais produtivos.
O resultado final foi a criação de 50.200 empregos diretos e indiretos por conta desses investimentos (segundo estimativas do estudo). O valor presente líquido dos subsídios foi de 28,6 bilhões de Euros, resultando em um custo de 571 mil euros por emprego gerado. Considerando que a média do estoque de capital por trabalhador era de 259 mil Euros, chega-se a um estimativa de perda de 2,2 postos de trabalho para cada emprego verde gerado. Outra forma de calcular essa perda ou ganho é comparar o subsídio anual por trabalhador com a produtividade média do trabalhador. A anuidade do subsídio calculada foi de 55.946€ e a produtividade média (renda com trabalho dividido pelo número de trabalhadores) é de 25.332€, resultando também em uma perda de 2,2 postos.
E quem paga a conta? Se os custos maiores forem absorvidos em tarifas maiores, isso afeta principalmente as indústrias que utilizam mais energia, como as siderúrgicas. Isso ocorreu, houve um aumento no preço da energia, e a última parte do artigo é dedicada à descrição dos efeitos dos maiores custos nas indústrias. Alternativamente, o governo poderia absorver “gratuitamente” esses subsídios via maior taxação ou maior endividamento (o que pode não ser uma boa ideia, vide eventos recentes envolvendo países europeus).
Os resultados da pesquisa mostram um ensinamento antigo em economia, que já deveria ter sido aprendido: não se cria empregos ou prosperidade estimulando a demanda ou aumentando custos (para supostamente aumentar a demanda), e sim aumentando a produtividade. Se a energia renovável é mais cara do que a energia convencional, é porque é menos eficiente e seu uso só serve para aumentar os custos. Preços de mercado mais elevados para esse tipo energia em comparação com outras fontes de energia mostram a desvantagem dessas fontes de energia, que exigem um maior “sacrifício” para serem utilizadas. Ou se tornam mais eficientes, ou não haverá espaço para essas tecnologias. E nada mudará isso.
A análise de várias falácias clássicas poderiam prever os resultados observados. A primeira análise é “A Lição” de Henry Hazlitt: é necessário não ver apenas os efeitos imediatos, mas também os de longo prazo de qualquer política e também o efeito para todos, não para apenas um grupo. Thomas Sowell classificaria as falácias empregadas no grupo de “Falácias de recursos ilimitados”, ignorar que os recursos possuem aplicações alternativas.