(Do green products make us better people?)
Nina Mazar e Chen-Bo Zhong
Psychological Science Vol. 21 Noº. 3
As pessoas, na hora de tomarem decisões sobre consumo, não levam em conta apenas preço e qualidade. Ponto (em termos, como argumentarei no final). As pessoas, de uma forma geral, estão se preocupando mais com o impacto ambiental e social dos produtos que consume. Ponto (a maior preocupação é facilmente sentida). O fato de consumir produtos ambiental-social-humana-animalmente responsáveis tornam as pessoas responsáveis. Intuitivamente sim, mas esse artigo põe em dúvida esse último elo.
Os pesquisadores procuraram determinar o impacto da exposição a produtos “verdes” e o consumo desses produtos no comportamento das pessoas. Outros estudos mostram que a exposição a algo que sugira um comportamento (etiqueta, lealdade, criatividade etc.) acaba por induzir as pessoas a um comportamento semelhante, e o mesmo pode acontecer com a exposição a produtos verdes. Porém, a questão pode ser mais complicada se a pessoa deve demonstrar um determinado comportamento e, em seguida, mantém-se coerente com isso (ou seja, agir altruisticamente e continuar agindo assim). Dessa forma, a previsão acerca do altruísmo no consumo verde pode não se concretizar.
O artigo apresenta diversos experimentos. O primeiro é sobre a percepção de altruísmo e comportamento ético de pessoas desconhecidas, 59 estudantes voluntários (ou “voluntários”) que foram separados aleatoriamente em “consumidores conscientes” e “consumidores inconscientes” (perdoe-me o trocadilho). Os consumidores conscientes forma considerados mais cooperativos, mais altruístas e mais éticos do que os do outro grupo, sendo que foram sorteados aleatoriamente de um mesmo grupo. Ou seja, pessoas vêem como moralmente superiores os consumidores conscientes, o que pode levar ao consumo de produtos éticos e conseqüente comportamento ético. A verificar.
O experimento 2 procurou determinar se a exposição a produtos éticos leva a um comportamento ético. 156 estudantes participaram desse estudo, sendo separados em quatro grupos divididos por lojas (verde ou convencional) e ação (mera exposição ou compra). Primeiro os estudantes eram expostos a um tipo de loja virtual e em seguida o grupo de mera exposição avaliava os produtos (ação irrelevante para o estudo) e o grupo de compra comprava produtos da loja (ação também irrelevante em si). Em seguida, os mesmos participantes jogavam um jogo do ditador, etapa importantíssima do estudo. Constatou-se que o grupo que foi exposto aos produtos verdes (mas não comprou) foi mais generoso no jogo, porém, o grupo que comprou produtos verdes mostrou-se menos generoso. Consumo de produtos verdes faz com que as pessoas sejam vistas de forma mais positiva e a exposição a tais produtos faz as pessoas serem mais altruístas, porém, parece que o consumo em si torna as pessoas menos altruístas. Algo a ser verificado no último teste.
O terceiro experimento envolveu 90 estudantes. Na primeira etapa, os estudantes puderam escolher entre comprar da loja “verde” ou da loja “sombria” (perdoe-me o trocadilho de novo). Em seguida, os estudantes participaram de um jogo de percepção visual. Um padrão de pontos aparece em uma tela e os participantes deveriam dizer se havia mais pontos à esquerda ou à direita e receberiam 0,5 ¢ (meio centavo canadense) por cada vez que dissessem que havia mais pontos à esquerda e 5¢ (5 centavos canadenses) para cada vez que dissessem que havia mais pontos à direita, independente de acertar ou errar. Os padrões eram de tal forma que era difícil errar sobre qual lado tinha mais pontos. Para todos, havia mais pontos à direita em 36 do casos (40%), o que faz uma remuneração de C$2,07 para quem respondesse tudo da forma apropriada. Os participantes que compraram da loja convencional disseram que 42,50% das vezes havia mais pontos à direita, média não indistinguível da verdadeira média (40%). Por outro lado, os que compraram da loja verde indicaram mais pontos à direita em 51,4% das ocasiões. No fim, os que compraram na loja verde levaram mais C$ 0,36 do que os demais.
Ainda nesse experimento, os próprios participantes pegavam o dinheiro a que tinham direito de um envelope contendo C$ 5,00. Ou seja, além de mentir no teste, os participantes poderiam roubar pegando mais do que deveriam. Os que consumiram na loja verde roubaram C$ 0,48 mais do que os demais, levando para casa mais C$ 0,83 (sem arredondar os cálculos intermediários) do que os outros levaram.
A explicação dada por esse último resultado é que as pessoas julgam ter provado suficientemente suas boas intenções nas decisões de consumo e se dão o direito de agir de maneira menos ética nas decisões subseqüentes. Ou seja, boas ações parecem dar licença a más ações futuras.
Na opinião de quem não estudou muito a fundo essa questão (a minha opinião), os produtos verdes só serão realmente economicamente viáveis quando ou custarem menos, ou serem de melhor qualidade ou uma combinação dos dois. Como indicado (mas não provado, já que alguns experimentos não podem provar categoricamente coisa alguma) exigir do consumidor um sacrifício para adotar um consumo verde por isso ter uma implicação social positiva (ser melhor visto) pode levar a comportamentos não desejados e não previstos. Para quem os produtos verdes não são um sacrifício (mesmo que mais caros, de melhor qualidade ou, mesmo de pior qualidade, com um preço que compensa, ou mesmo que piores e mais caros, há a qualidade intrínseca de se fazer algo de bom), já há a situação desejável descrita no primeiro parágrafo. O que precisa é aumentar o número de pessoas que sentem (sinceramente) o mesmo.
Nina Mazar e Chen-Bo Zhong
Psychological Science Vol. 21 Noº. 3
As pessoas, na hora de tomarem decisões sobre consumo, não levam em conta apenas preço e qualidade. Ponto (em termos, como argumentarei no final). As pessoas, de uma forma geral, estão se preocupando mais com o impacto ambiental e social dos produtos que consume. Ponto (a maior preocupação é facilmente sentida). O fato de consumir produtos ambiental-social-humana-animalmente responsáveis tornam as pessoas responsáveis. Intuitivamente sim, mas esse artigo põe em dúvida esse último elo.
Os pesquisadores procuraram determinar o impacto da exposição a produtos “verdes” e o consumo desses produtos no comportamento das pessoas. Outros estudos mostram que a exposição a algo que sugira um comportamento (etiqueta, lealdade, criatividade etc.) acaba por induzir as pessoas a um comportamento semelhante, e o mesmo pode acontecer com a exposição a produtos verdes. Porém, a questão pode ser mais complicada se a pessoa deve demonstrar um determinado comportamento e, em seguida, mantém-se coerente com isso (ou seja, agir altruisticamente e continuar agindo assim). Dessa forma, a previsão acerca do altruísmo no consumo verde pode não se concretizar.
O artigo apresenta diversos experimentos. O primeiro é sobre a percepção de altruísmo e comportamento ético de pessoas desconhecidas, 59 estudantes voluntários (ou “voluntários”) que foram separados aleatoriamente em “consumidores conscientes” e “consumidores inconscientes” (perdoe-me o trocadilho). Os consumidores conscientes forma considerados mais cooperativos, mais altruístas e mais éticos do que os do outro grupo, sendo que foram sorteados aleatoriamente de um mesmo grupo. Ou seja, pessoas vêem como moralmente superiores os consumidores conscientes, o que pode levar ao consumo de produtos éticos e conseqüente comportamento ético. A verificar.
O experimento 2 procurou determinar se a exposição a produtos éticos leva a um comportamento ético. 156 estudantes participaram desse estudo, sendo separados em quatro grupos divididos por lojas (verde ou convencional) e ação (mera exposição ou compra). Primeiro os estudantes eram expostos a um tipo de loja virtual e em seguida o grupo de mera exposição avaliava os produtos (ação irrelevante para o estudo) e o grupo de compra comprava produtos da loja (ação também irrelevante em si). Em seguida, os mesmos participantes jogavam um jogo do ditador, etapa importantíssima do estudo. Constatou-se que o grupo que foi exposto aos produtos verdes (mas não comprou) foi mais generoso no jogo, porém, o grupo que comprou produtos verdes mostrou-se menos generoso. Consumo de produtos verdes faz com que as pessoas sejam vistas de forma mais positiva e a exposição a tais produtos faz as pessoas serem mais altruístas, porém, parece que o consumo em si torna as pessoas menos altruístas. Algo a ser verificado no último teste.
O terceiro experimento envolveu 90 estudantes. Na primeira etapa, os estudantes puderam escolher entre comprar da loja “verde” ou da loja “sombria” (perdoe-me o trocadilho de novo). Em seguida, os estudantes participaram de um jogo de percepção visual. Um padrão de pontos aparece em uma tela e os participantes deveriam dizer se havia mais pontos à esquerda ou à direita e receberiam 0,5 ¢ (meio centavo canadense) por cada vez que dissessem que havia mais pontos à esquerda e 5¢ (5 centavos canadenses) para cada vez que dissessem que havia mais pontos à direita, independente de acertar ou errar. Os padrões eram de tal forma que era difícil errar sobre qual lado tinha mais pontos. Para todos, havia mais pontos à direita em 36 do casos (40%), o que faz uma remuneração de C$2,07 para quem respondesse tudo da forma apropriada. Os participantes que compraram da loja convencional disseram que 42,50% das vezes havia mais pontos à direita, média não indistinguível da verdadeira média (40%). Por outro lado, os que compraram da loja verde indicaram mais pontos à direita em 51,4% das ocasiões. No fim, os que compraram na loja verde levaram mais C$ 0,36 do que os demais.
Ainda nesse experimento, os próprios participantes pegavam o dinheiro a que tinham direito de um envelope contendo C$ 5,00. Ou seja, além de mentir no teste, os participantes poderiam roubar pegando mais do que deveriam. Os que consumiram na loja verde roubaram C$ 0,48 mais do que os demais, levando para casa mais C$ 0,83 (sem arredondar os cálculos intermediários) do que os outros levaram.
A explicação dada por esse último resultado é que as pessoas julgam ter provado suficientemente suas boas intenções nas decisões de consumo e se dão o direito de agir de maneira menos ética nas decisões subseqüentes. Ou seja, boas ações parecem dar licença a más ações futuras.
Na opinião de quem não estudou muito a fundo essa questão (a minha opinião), os produtos verdes só serão realmente economicamente viáveis quando ou custarem menos, ou serem de melhor qualidade ou uma combinação dos dois. Como indicado (mas não provado, já que alguns experimentos não podem provar categoricamente coisa alguma) exigir do consumidor um sacrifício para adotar um consumo verde por isso ter uma implicação social positiva (ser melhor visto) pode levar a comportamentos não desejados e não previstos. Para quem os produtos verdes não são um sacrifício (mesmo que mais caros, de melhor qualidade ou, mesmo de pior qualidade, com um preço que compensa, ou mesmo que piores e mais caros, há a qualidade intrínseca de se fazer algo de bom), já há a situação desejável descrita no primeiro parágrafo. O que precisa é aumentar o número de pessoas que sentem (sinceramente) o mesmo.
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