Ronald Coase
Economica. Volume 4. Edição 16. 1937.
Ronald Coase, que completa hoje 102 anos, é um dos
economistas vivos mais influentes. O livro “The
Firm, The Market and the Law” reúne alguns dos principais artigos de Coase.
O mais conhecido é o “The Nature of Firm”, que procura examinar a razão de
existência das empresas.
No começo do artigo, Coase escreve sobre a
importância de se definir exatamente as premissas das quais os economistas
partem, o ideal sendo que o conjunto de premissas deve ser gerenciável e
realista, mas nem sempre é possível obter simultaneamente as duas
características.
Coase começa a analisar a empresa a partir do
sistema econômico como um todo, regido pelo sistema de preços. Longe de
criticar, inicialmente Coase apenas observa que o sistema de preços não
descreve o que acontece dentro de uma empresa e que há outro tipo de
planejamento econômico envolvido. No mercado, um fator A que tem preços
diferentes em X e Y move-se do mais barato para o mais caro até que a diferença
de preços seja nula. Mas, dentro da empresa, um empregado não muda do
departamento X para o Y movido por preços, e sim porque alguém ordenou que
assim o fizesse; a lógica pode até ser parecida, alocar recursos onde eles são
mais necessários tirando de onde são menos necessários, mas o mecanismo é
totalmente diferente. Algo mais além do que preços coordena a utilização dos
fatores de produção, que é o empreendedor. Entre empresas, entre pessoas e
entre empresas e pessoas, os preços acabam coordenando consumo e produção, mas
se os preços pudessem realizar a alocação de recursos de maneira perfeita, para
que existiriam empresas e para que existiriam empreendedores para realizar a
coordenação dentro da empresa? Por que para algumas questões a coordenação por
preços é melhor e por que a coordenação do empreendedor é melhor em outros?
Voltando à questão das premissas, Coase afirma que a teoria de sua época partia
de diferentes premissas para os dois casos e ele procurou um conjunto único
para explicar as questões que colocou.
O elemento que Coase julga essencial para entender
a questão é a ideia de custos de transação, embora ele não tenha utilizado esse
termo. Esse seria o custo de se acessar o mecanismo de preços e de negociar e
concluir negociações contratuais. Ao invés de realizar uma série de contratos,
o empreendedor firma um contrato, estabelecendo dentro dele os limites para a
coordenação pelo empreendedor. Um contrato de trabalho, por exemplo, estabelece
os direitos e obrigações do empregador, que poderá exigir do funcionário o que
desejar dentro desses limites. O uso de empresas para coordenação a alocação de
recursos também permite o estabelecimento de contratos de longo prazo, que só
seria possível através do mecanismo de preços a um custo mais elevado.
Dessa forma, realizar operações de mercado custa
algo e o empreendedor é capaz de substituir parte dessas transações por
negociações menos frequentes e de mais longo prazo e coordenar os recursos
obtidos dessa forma. Assim, “a firma consiste no sistema de relações que veem a
existir quando a direção dos recursos é dependente de um empreendedor”. Mais
atividades são combinadas pelo empreendedor já que ele é capaz de economizar em
custos de transação ao realizar essa integração. E quanto mais transações são
organizadas pelo empreendedor, maior o tamanho da firma. A pergunta que passa a
existir agora é a inversa: por que as empresas não crescem indefinidamente até
ocuparem todas as transações? Por que há trocas de mercado que não ocorram
apenas através de empresas?
A resposta para essas perguntas também está na
questão dos custos de transação e nos retornos decrescentes para a atividade de
gerenciamento ou para a função empreendedora. Conforme aumenta o tamanho da
empresa, o custo para se organizar uma atividade internamente aumenta e chega
um momento em que se iguala ao custo de se realizar essa atividade através de
transações de mercado. É interessante notar que se uma empresa A deseja deixar
de transacionar com uma empresa B que realiza uma atividade da qual precise
(integração vertical), terá que realizar todas as atividades de B, o que é
muito caro e fica cada vez mais caro conforme o número de “empresas B” são
substituídas. Ainda há o caso onde a atividade empreendedora vai se tornando
tão complexa que os erros do empreendedor vão aumentando, de forma que seria
desejável contratar uma atividade (talvez as mais sujeitas a erro) de uma parte
externa. Por fim, quanto maior o tamanho da empresa, mais difícil é coordenar
as atividades que estão mais distantes geograficamente. Inovações que permitam
reduzir esses custos de gerenciamento, como melhorias nas comunicações,
permitem que a empresa possa se tornar maior.
Dessa forma, chega-se a uma visão sobre a utilidade
das empresas que é tanto realista quanto gerenciável. A partir dessas ideias, é
possível ter uma compreensão muito melhor de como funciona uma empresa e esse
artigo de Coase, escrito em 1937, viria a influenciar gerações de economistas.
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