quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

No longo prazo estaremos todos ricos. Ou não.

Ações são investimentos de longo prazo. Apesar de no curto prazo (um dia, um mês, até mesmo um ano) os ativos possam mostrar desvalorização, no longo prazo as ações sobem e batem a renda fixa.

Essa é mesmo a expectativa, mas nem sempre isso ocorre. Como hoje é o longo prazo de ontem, é possível estudar o desempenho de um investidor que tivesse entrado no mercado no passado. Vou fazer isso de duas maneiras: uma mostrando índices internacionais que não estão com bom desempenho e também os prêmios por risco implícitos no Brasil e nos Estados Unidos.

Índices Internacionais

Índices acionários que não fizeram topo histórico nesse século (antes de 2001):
AEX – Holanda (Topo em Setembro de 2000)
CAC 40 – França (Set/00)
FTSE 100 – Inglaterra (Dez/99)
Nasdaq – Estados Unidos (Mar/00)
Nikkei 225 – Japão (Dez/89)
TSEC – Taiwan (Fev/00)
PSI 20 – Portugal (Mar/00)
SET – Tailândia (Dez/93)

20 índices (os que têm como fonte a Bloomberg) eu não procurei o topo histórico. Então, 8 índices dentre 75 (95 menos 20) não fizeram topo no século 21, 10,67%. Convenhamos que 8 anos completos já é um prazo razoavelmente longo.

Além disso, têm os índices com um desempenho bem ruim em 5 anos. Como disse em outro texto, 52 índices de 87 estão em baixa (na verdade, escrevi que 37 de 89 estão em alta) ou 59,77%. Sendo que algumas são baixas expressivas, como a Islândia (-90,70%).

Ou seja, os investidores desses mercados (ingleses, holandeses, japoneses) que estavam no mercado quando esses atingiram o seu pico estão esperando até hoje para terem tanto quanto tinham naquele tempo. Os islandeses não estão esperando a tanto tempo, mas imagino que vão esperar por um horizonte de tempo bem longo.

Prêmios por risco
Escrevi sobre os prêmios por risco no mercado americano no texto anterior a esse. Agora, uma perspectiva histórica em um gráfico. Os prêmios apresentados são de 1928 até a data no eixo X. A fonte é a mesma do texto anterior, o site do Aswath Damodaran.







A queda em 2008 provocou uma brusca redução nos rendimentos relativos. De 2007 a 1928, o rendimento das ações era de 9,81% a.a. e o dos T-Bonds de 30 anos era de 5,01% a.a.. De 2008 a 1928, os rendimentos passaram para 9,07% a.a. e 5,19% a.a. respectivamente. A diferença de 0,74% a.a. no rendimento das ações pode parecer pequena, mas em 80 anos é de 80,37%, um número expressivo. Com isso, os prêmios passaram de 4,8% a.a. para 3,88% a.a.

O mesmo pode ser feito no Brasil, mas é mais complicado. São apenas 14 anos (Plano Real), o mercado brasileiro é mais volátil e a renda fixa tem retornos expressivos (a taxa de juros brasileira, que está bem abaixo do que já foi, é uma das maiores do mundo em termos reais). Além disso, usar o CDI para renda fixa pode não ser a melhor opção (é a melhor que consegui encontrar).

O rendimento do mercado é do Ibovespa (fonte: Bovespa.com) e a renda fixa é a taxa do CDI/CETIP (fonte: CETIP). Abaixo, alguns cálculos para o prêmio de risco, com base em 31/121994. O Ibovespa nessa data inicial estava em 4.354 pontos e o capital inicial da simulação é de $100. A coluna IBOV é o valor do Ibovespa na Data Final. As colunas Valor IBOV e CDI/CETIP mostram quanto o investidor teria na data final em cada possibilidade. Na coluna Prêmio, o rendimento do Ibovespa dividido pelo rendimento do CDI, convertido para uma taxa anual.


Ou seja, quem tivesse investido em renda fixa no final de 1994 teria, em 2008, mais do que quem investiu em ações. Se você mudar a base, só encontraria prêmios positivos investindo em Dezembro de 1998 ou em Dezembro de 2002 (não mostrarei essas contas).

Desconsiderando 2008, tudo muda. Adotando como data final Dezembro de 2007 ou Maio de 2008 (mês do atual topo histórico), os prêmios por risco se tornam positivos. Isso acontece adotando qualquer outra base além de Dezembro de 1994. Infelizmente, não podemos desconsiderar 2008, fingir que não existiu.

A conclusão no caso americano é que a atratividade de investir em ações parece ter diminuído com o desempenho de 2008, mas continua valendo mais a pena investir em ações do que em renda fixa (em termos de retornos). Resta saber se essa mudança é temporária ou se a média dos próximos anos ficará nos patamares de hoje. Só esperando para saber.

Fazendo essas análises, parece que investir em ações no Brasil é um mau negócio. Porém, é necessário cautela nas conclusões. A expectativa é que a renda fixa deixe de ser tão rentável no futuro (se bem que tem gente esperando a SELIC em um dígito há um bom tempo...). Além disso, os resultados apresentados são muito voláteis, porque a janela de dados é curta (apenas 14 anos). Ao final de 2002, o prêmio por risco era de -10,68%, o que não credenciava boa recomendação para ações. No entanto, o desempenho após 2002 foi tão bom que, mesmo com 2008, o retorno de quem investiu em 2002 foi de 6,03% acima da renda fixa.

Na verdade, o prêmio histórico pode não ser um bom indicador para os retornos futuros. É de se argumentar que exista um prêmio por risco “real” que não pode ser calculado exatamente e que 2008 nos afastou desse prêmio, mas a expectativa é que, no futuro, os prêmios históricos voltem a se aproximar do prêmio “real”. Mesmo assim, os números de 2008 são bastante eloqüentes.

A conclusão geral: ouça o que dizem os prêmios por risco, mas não os leve tão em consideração na hora de tomar decisões. O atual rendimento relativo do Ibovespa, começando de 1994, mostra que é bom duvidar que o mercado acionário seja sempre melhor no longo prazo. Mas não quer dizer que seja a hora de sair ou que não seja a hora de entrar (como 2002 mostrou).

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